Redação
“O político e economista Andrés Caleca presidia o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela quando Hugo Chávez convocou em 1999 o referendo para substituir a Constituição do país. Embora reconheça que foi a partir deste momento que a democracia venezuelana acelerou sua derrocada, ele se orgulha de ter conduzido com êxito o primeiro processo constitucional inteiramente votado pela população.
Hoje, ele está do lado que faz oposição ao ditador Nicolás Maduro, que busca se firmar no poder nas eleições a serem celebradas neste domingo, 28. Caleca chegou a disputar a vaga pela candidatura da Plataforma Unitária, chapa de oposição, contra a líder Mari Corina Machado em 2023, que na época venceu com mais de 90% dos votos. Agora ele endossa a candidatura de Edmundo González Urrutia.
“A única coisa que a oposição venezuelana tem no momento são votos frente a uma ditadura que tem todos os poderes do Estado, inclusive as armas da República, mas não tem voz e não tem intenção aparente de entregar o governo”, afirmou com preocupação durante uma entrevista de uma hora por vídeo chamada ao Estadão.
Segundo ele, os próximos dias serão os mais perigosos dos últimos 25 anos para a paz no país. Esta afirmação, inclusive, foi feita antes de Maduro afirmar que haverá um ‘banho de sangue’ caso a oposição ganhe as eleições.
“Posso dizer com toda a seriedade que os dias entre agora e as eleições são os mais perigosos para a paz pública na Venezuela nos últimos 25 anos, porque estamos na presença de um regime autoritário que se recusa a entregar o poder”, disse.
Quando questionado se valia a pena, neste cenário adverso, confiar na via eleitoral, Caleca responde: ‘Nós, democratas, sempre votamos, em todas as circunstâncias, mesmo nas piores, porque isso faz parte da luta pela democracia.’
‘Os democratas venezuelanos estão atualmente determinados a forçar o governo a permanecer na via eleitoral e constitucional pacífica, porque em qualquer outra via o governo nos liquidará, porque tem todas as armas da República e não hesita em usá-las, como já as usou em 2014’, completa em referência aos protestos daquele ano contra Maduro.
Em sua época como presidente do CNE, Caleca bateu de frente com Hugo Chávez, chegando a aplicar uma multa por interferência no processo constituinte. Na época, Chávez ameaçou com um ‘terão que me meter preso’, o que Caleca respondeu com outra ameaça, a de suspender as eleições para a nova Constituição.
‘Chávez foi o único presidente em toda a história da Venezuela a ser multado por ter sido acusado e comprovadamente cometido um delito eleitoral’, disse em tom de orgulho. ‘Ele não apenas pagou a multa, que era algo em torno de US$ 9.000 na época, mas a partir daí se absteve de fazer propaganda eleitoral. Mas foi aí que vimos qual era a natureza autoritária do chavismo’.”
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