Resultados eleitorais deste ano indicam que Lula e Bolsonaro têm menos protagonismo político

Publicado em 10/10/2024, às 18h00

Redação

O eleitor indignado e o eleitor frustrado foram muito influentes nas duas últimas eleições presidenciais.
Mas, pelo resultados das disputas eleitorais de 2024, não está claro para onde (e para quem) eles deverão correr a partir de agora.
A observação é do jornalista William Waack:
“Lula e Bolsonaro se preparam para serem ‘decisivos’ no segundo turno paulistano. Sem dúvida serão influentes, mas aquém do que acham de si mesmos.

Essa perda relativa de importância não é função da performance pessoal de cada um deles — ela continua basicamente a mesma. E nisto reside o problema para ambos: as eleições municipais em geral e as de São Paulo em especial evidenciaram em boa parte cansaço com a ‘velha’ polarização.

Lula não é mais o mesmo, pois suas plataformas de ‘esquerda’ perderam claramente apelo eleitoral ao longo de mais de uma década (a vitória dele contra Bolsonaro pode ser vista como ponto fora da curva). Trata-se de séria questão estrutural — e possivelmente de idade também.

Bolsonaro vem perdendo a condição de ‘mito’ por um outro tipo de questão estrutural, também de grande abrangência. As últimas eleições demonstraram a importância da política organizada, hierarquizada, capilarizada e alimentada pelos cofres públicos e pela máquina pública, que se expressou no sucesso de pelo menos seis partidos.

Nas contas de Gilbeto Kassab, um dos mais hábeis operadores políticos do momento, essas seis siglas podem ser arrumadas em três de ‘direita’ (PL, PP e Republicanos) e três de ‘centro’ (PSD, MDB e União Brasil). Juntas, tiveram 72 milhões de votos, contra 23 milhões dos agrupamentos de esquerda.

Ocorre que, fora o PL, Bolsonaro não ‘comanda’ nenhuma delas. Ao contrário, dependendo das conveniências regionais ou locais, essas correntes de ‘direita’ caminham até em direções opostas. Kassab chama isso de ‘transição’, pois quem apostou na polarização das bolhas não se saiu bem nas recentes eleições municipais.

Para 2026, essa ‘transição’ tem algo bem conhecido: é o fato de esse enorme ajuntamento político operar sabendo que não precisa se agarrar a candidatos, pois na relação de forças entre os poderes quem for eleito dependerá desse amálgama (como aconteceu com Bolsonaro e acontece com Lula). Pelo jeito as coisas transicionam para ficar assim como são, menos a acidez de ‘bolhas’.

Pode-se enxergar em alguns candidatos em grandes capitais (e os respectivos governadores que os apoiaram) algum tipo de ‘renovação’ na política, pois o sucesso eleitoral deles e de seus articuladores não dependeu exclusivamente de Lula ou Bolsonaro. Nesse sentido, têm seu ‘próprio’ capital político, o que sugere cenários mais fluídos para 2026 do que a enfadonha repetição da polarização.

Perdoando a simplificação, é bom lembrar que o eleitor ‘indignado’ e o eleitor ‘frustrado’ tiveram grande influência nas duas últimas eleições presidenciais.

Não está claro para onde correrão agora.”

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