Redação
Quem se apega à identidade tribal relativiza a gravidade das condutas individuais, como avalia o jornalista Felipe Moura Brasil:
“A direita americana, supostamente conservadora, defende um ex-presidente que tentou acobertar com documentos falsos a compra do silêncio de uma atriz pornô, após uma pulada de cerca que saiu cara…
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A direita brasileira, supostamente conservadora, defende uma família com histórico de funcionalismo fantasma que, para não ser presa, topou o acordão pela impunidade geral, que rendeu a soltura e a extinção de processos do suposto rival de esquerda…
A esquerda brasileira, supostamente defensora do povo contra as elites, defende um aliado de ditadores estrangeiros e ex-condenado por recebimento de milhões de reais em propina de alguns dos empresários mais ricos do país, que fizeram conluio com agentes públicos e políticos para faturar contratos bilionários.
Quem se atém às condutas individuais em detrimento da identidade tribal percebe o contraste entre a retórica e as atitudes de populistas americanos e brasileiros.
Quem se apega à identidade tribal relativiza a gravidade das condutas individuais, atribuindo a adversários políticos uma perseguição permanente aos líderes do seu rebanho.
Massas de manobra são assim: deixam-se encantar com palavras que despertam o sentimento de pertencimento a um grupo incondicionalmente virtuoso, afastando a consciência individual da verificação da correspondência prática de cada discurso.
De um lado: Deus, Pátria, Família, Liberdade.
Do outro: Justiça social, Igualdade, Direitos humanos, Democracia.
Os encantadores de serpente de ambos os lados do espectro ideológico, capazes de mobilizar grandes segmentos da sociedade em defesa das bandeiras que dizem defender, estão livres para fraudar, roubar e aliar-se ao que há de pior em seu país e no restante do mundo.
A conciliação das poses de valentão e de vítima, durante o suposto combate a um mal supostamente maior, vem funcionando em diversos países, como EUA e Brasil, mais precisamente no fantástico mundo da propaganda política em bolhas virtuais.
Resta saber se o eleitorado independente tem força para mudar esse jogo antes que o espelho dos populistas se quebre e um não possa mais se limpar na sujeira do outro.”
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