Arapiraca: 93 anos de história, cultura e avanços

Publicado em 30/10/2017, às 18h15

Redação

Breno Airan e Willian Rocha/ Especial para o TNH1

LEIA TAMBÉM

Será que Manoel André Correia dos Santos imaginou, lá em 1848, que aquelas terras que ele acabara de habitar se tornaria, no futuro, a segunda maior cidade do Estado de Alagoas e uma das 10 mais dinâmicas de todo o Brasil?

A jornada daquele sertanejo, vindo de Cacimbinhas, até chegar ao chamado Espigão do Cangandú foi repleta de aventuras e desavenças, que, no entanto, foi contemplada com uma história rica de memoráveis personagens que fizeram daquela região o símbolo de um rápido desenvolvimento econômico, turístico e cultural.

Em apenas 93 anos da conquista de sua Emancipação Política feita pelo coronel Esperidião Rodrigues da Silva – completados nesta segunda-feira (30) –, Arapiraca passou por diversas transformações significativas para tão pouco tempo.

Já foi dona da maior feira-livre do Brasil, a tradicional “Feira de Arapiraca”, viveu seu apogeu com a alcunha de “Capital Brasileira do Fumo” por conta do “ouro verde” que vestiu seus campos agropecuários e hoje vive o boom do comércio, imobiliário e de serviços, devido à sua posição geográfica, situada no coração do Estado, que interliga suas rotas com Pernambuco, Sergipe, com o mar e com o Velho Chico.

“Filhos adotivos”

Como é uma terra relativamente nova, muita gente de fora da cidade é que fez de Arapiraca sua “segunda mãe”. É o caso da aposentada Maria de Lourdes Amorim Pinheiro, de 92 anos, um a menos que o município.

A dona Lourdes, como é mais conhecida, é natural de Correntes-PE e veio com seu pai para Alagoas para passar apenas 15 dias. “Ele me enganou”, brinca ela. “Acabei por me situar primeiro em Campo Alegre e depois fui morar no Girau do Ponciano, onde lá firmamos a Fazenda Senhor do Bonfim. Tem esse nome, mas a gente só chama mesmo de ‘Botequim’. Conheci meu futuro esposo Domiciano por lá durante um enterro de uma pessoa que tínhamos em comum. E de lá ironicamente ‘nasceu’ um amor”, conta.

Ela, sempre sorridente, comenta que suas amigas na época diziam que Domiciano estava olhando para sempre aquela menina recatada. “Mas ele era zarolho. Estava olhando para mim, não”, brinca mais uma vez a dona Lourdes.

Foi com esse humor que ela o conquistou e, após pouco tempo de namoro, os dois logo se casaram em questão de semanas. Dessa união, seis filhos surgiram.

“Acabamos por sair do Girau para fixar residência em Arapiraca, onde hoje é a Farmácia Nacional, na Rua 30 de Outubro [nome dado coincidentemente por conta do dia da Emancipação], no bairro do Centro. E isso foi muito importante, pois apenas aqui havia acesso à Educação e era isso o que queríamos para nossos filhos, atualmente todos formados”.

Sendo então “adotada” pela cidade, ela não parou quieta. Além de trabalhar na enxada no Botequim, dona Lourdes também foi costureira e sapateira. “Tudo isso para dar condições de estudos para os nossos filhos”, pontua ela, que não é alfabetizada.

A família dela ainda chegou a passar uma temporada em São Paulo, a “el dorado” dos nordestinos, mas logo voltou para o berço arapiraquense. “Quando retornamos com um certo dinheiro no bolso, no Botequim, começamos a plantar muita coisa: algodão, milho, mandioca, feijão e até fumo. Tínhamos fruteiras, com manga e caju, gado, galinha, bode e porco. Tudo era muito dinâmico”. 

Segundo a aposentada, que hoje dispõe de 21 tarefas de terra no lugar de sempre, Arapiraca “era só mato”. “De uma hora para outra, isso aqui começou a encher de gente. Sabiam que a cidade era próspera e que tinha lugar para todo mundo. De repente, virou isso que presenciamos hoje. E só tende a crescer mais, né? Nem 100 anos tem ainda”, finaliza. 

Outro filho adotivo que fez de Arapiraca seu patrimônio sentimental pessoal foi um dos maiores incentivadores culturais que se tem notícia por essas regiões agrestinas.  

Eis a história de Paulo Lourenço da Silva, o Paulo, do tradicionalíssimo "Bar do Paul"o, famoso estabelecimento que fez a cabeça de gerações passadas em pleno período da ditadura militar.  

Ele nasceu no Complexo das Pias, zona rural de Palmeira dos Índios, ali já chegando em Pernambuco. Trabalhava no campo com seu pai, aprendeu a ler e a escrever junto de outro irmãos e tinha acesso direto à música com seu tio Leopoldino.

Esse mesmo tio o chamou para uma viagem a São Paulo – ele faria uma cirurgia. Passado o período de recuperação, o tio voltou e Paulo Lourenço arrumou um emprego na “terra da garoa” como garçom. 

Lá, aprendeu o ofício e como encarar a vida de frente sempre buscando atender bem aos outros. Aquele cidade imensa convergia todo tipo de gente. E esse caldeirão cultural repercutiu positivamente na formação daquele jovem sonhador, que iniciava seus estudos literários e musicais a partir obras clássicas e vinis de jazz, música clássica e a MPB que estava surgindo. 

Após uma tragédia pessoal, retornou para Alagoas, enfim. Deu suporte à família e resolveu por aqui ficar com a família. Comprou uma residência na esquina das ruas Dom Jonas Batinga e São Luiz, no bairro Ouro Preto, sem saber que aquele seria o point da contracultura arapiraquense no futuro.  

Abriu uma bodega em setembro de 1973 que findou virando o saudoso “Bar do Paulo”, onde se discutiam filosofia, cinema, política, artes plásticas e, claro, música. Tudo de forma muito aberta. Nada melhor que a mesa de um bar para o papo fluir.  

O local fez sucesso também pela “mão boa” da dona Antônia Carlos da Silva, sua esposa. Ela fez um dos pratos mais conhecidos na cidade, a costelinha de porco do Bar do Paulo, ponto alto da gastronomia local. 

Nesses 44 anos em que vive em Arapiraca, Paulo Lourenço observou de perto todas as suas fases e mudanças e destaca que o celeiro cultural do município tem se desenvolvido com uma velocidade absurda, uma vez que a tecnologia tem contribuído com os avanços e com a forma de as pessoas transmitirem suas mensagens. 

Prova viva disso é este vídeo dele, que guarda para a posteridade: 

O amor reina 

Recém-formado em Medicina e a pedidos de seu irmão José Fernandes para compor o corpo médico de Arapiraca, Judá Fernandes foi um dos revolucionários dentro da Saúde municipal. 

Ele foi um dos primeiros médicos a realizar atendimentos nas poucas Unidades de Saúde que existiam na época.  

Em 1965, o Hospital Regional de Arapiraca contou com seu apoio para que, enfim, pudesse abrir as portas. Ajudando nessa empreitada estava a jovem assistente social Almira Gouveia Alves que, naquele ano, não mediu esforços para sair da capital alagoana e aqui conseguir fazer esse marco na história arapiraquense. Os dois terminaram se casando.  

Juntos após a abertura do hospital, Almira e Judá fincaram suas raízes nas terras de Manoel André, e aqui contribuíram diretamente para o desenvolvimento voraz do município. 

Entre as contribuições mais significativas do casal está a fundação da primeira rádio legalizada de Arapiraca, a Rádio Novo Nordeste e a vinda do Rotary Club, entre outras tantas ações que fizeram da cidade agrestina um polo do progresso em Alagoas. Noventa e três anos e contando... 

Para o prefeito de Arapiraca, Rogério Teófilo, a data é muito importante para a cidade. "É apenas um dia diante dos  outros 364, que também são de conquistas. Mas conquistas diárias. É esse povo guerreiro e empreendedor que gere e gira a roda econômica do nosso município. Arapiraca é esse ambiente acolhedor hoje por conta do berço também criado aqui, com pessoas de muitas cidades vizinhas residindo e deixando aqui um pouco de seus sonhos. Temos muito caminho até o centenário, porém com a certeza de um caminho pavimentado com amor pelo outro, ética e serenidade”, diz o prefeito Rogério Teófilo.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Após prisões e apreensões, Polícia Civil alerta influenciadores sobre os riscos de promover jogos ilegais Governo de Alagoas prorroga validade de concurso da Polícia Científica; veja data Usina Caeté firma acordo com a Colônia de Pescadores de Roteiro Missas de 7° dia em homenagem a Benedito de Lira serão realizadas nesta segunda-feira (20)