Anne Hathaway e Jared Leto vivem esquisitões por trás da WeWork em 'WeCrashed'

Publicado em 17/03/2022, às 23h10
Divulgação -

Folhapress

Quando deixou o serviço militar em sua Israel natal, em 2001, Adam Neumann foi direto para um dos endereços mais inflacionados de todo o mundo -Nova York. Lá, se deparou com aluguéis escabrosos e imóveis à venda por preços proibitivos, o que resultou numa boa ideia e numa saga povoada por personagens caricatos e unicórnios.

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Não os míticos equinos de chifre, mas aquelas startups que, como a cria de Neumann, a WeWork, alcançam valor de mercado superior a US$ 1 bilhão -a empresa, no caso, chegou a valer 47 vezes esse preço, mas pouco depois quase foi à falência. Essa história recheada de plot twists captou a atenção do Apple TV+, que encomendou e lança agora a série "WeCrashed".

Protagonizada por uma dupla de oscarizados, Jared Leto e Anne Hathaway, a produção narra a ascensão e a queda da WeWork, bem como a forma escusa com a qual Neumann chefiava a empresa e a vida pessoal peculiar dele e da mulher, Rebekah Neumann.

"Essa história é um clássico, estamos falando do voo de Ícaro. Falamos de alguém que alcançou algo muito grande, coisa que pouca gente consegue, então é fascinante ver esse sucesso e depois examinar o seu fracasso", diz Leto, em entrevista por vídeo. Para o papel, ele diz ter se afundado em pesquisas e feito muita improvisação para tentar alcançar o nível de carisma ímpar de Neumann.

Numa cena, vemos o protagonista se convidando para jantar com seu vizinho, que havia buscado comida chinesa -só para ele mesmo. Em outra, ele chega à sede da WeWork, o que faz com que os funcionários corram para sincronizar, nos alto falantes potentes de toda a empresa, a música "Roar", de Katy Perry, com a saída dele do elevador.

"Eu tenho os olhos de um tigre, um lutador/ dançando pelo fogo/ porque eu sou um vencedor e você vai me ouvir rugir", diz a letra, enquanto Adam passeia pelo lugar como uma verdadeira estrela do rock, um excêntrico -duas coisas que Leto, curiosamente, também é.

Antes do Oscar e da carreira bem-sucedida nas telas, ele esteve à frente da banda Thirty Seconds to Mars. E depois, já em Hollywood, ele ganhou fama também por seu comportamento peculiar no set de filmagem e pelos personagens extravagantes -do Coringa a Paolo Gucci, de "Casa Gucci", pelo qual tentou, mas não conseguiu uma indicação ao Oscar.

À frente de boas ideias e de negócios, no entanto, o que realmente move a trama de "WeCrashed" é a relação de Adam e Rebekah, que Anne Hathaway descreve como sendo cheia de química e também muito complicada.

"Quando eu aceitei participar da série, o Jared já estava contratado e eu achei que ele ficaria maravilhoso no papel. Mas, antes de dizer sim, eu quis ter certeza de que os criadores dariam o mesmo espaço para a Rebekah, porque essa história é muito sobre o relacionamento deles", diz ela, em seu terceiro papel na televisão nos últimos três anos.

Como alguém que começou nas telinhas, na série "Caia na Real", ela se diz empolgada em estar de volta e num contexto totalmente diferente. "Quando eu era mais nova eu tinha certa inveja dos atores britânicos, porque eu percebia que eles podiam transitar entre cinema, TV e teatro sem nunca receber um rótulo. Eu estou animada por estarmos vivendo esse momento agora nos Estados Unidos, em que somos simplesmente atores."

Assim como Adam, Rebekah pode ser descrita como uma pessoa complexa. Eles engataram o relacionamento depois de ela passar meses num retiro de silêncio e meditação, e a energia das pessoas e dos lugares, com frequência, determinavam seus passos e os do marido -na vida real, ela chegou a demitir funcionários de uma subsidiária da WeWork, centrada em educação, por não gostar da "vibe" deles.

Esse jeito estranho de levar a vida contaminou os negócios, o que ajuda a explicar parte da derrocada da WeWork, fundada em 2010 e que ganhou notoriedade oferecendo o que chamava de um novo estilo de vida -na prática, espaços de trabalho compartilhados.

A estratégia era alugar prédios inteiros e sublocar mesas ou salas para quem não podia pagar um espaço só seu, pegando carona na crise de 2008. Nesses imóveis, a empresa seguia a lógica de muitas startups, oferecendo cozinhas com guloseimas, mesas de pingue-pongue e outros mimos que deixavam o clima descontraído.

Dois anos depois, a WeWork conseguiu um investimento de US$ 17 milhões do mesmo grupo que viu futuro no Uber e no Twitter, e rapidamente se expandiu para outras cidades americanas e, logo, estrangeiras. O Brasil esteve -e continua, já que a empresa ainda está de pé- na lista.

Mas as coisas desandaram em 2019, quando a companhia estava prestes a entrar na Bolsa de Valores, avaliada em US$ 47 bilhões. Com os documentos necessários para isso, o mundo viu pela primeira vez que os números da WeWork não eram tão bons assim, com perdas crescentes nos últimos anos.

Para piorar, funcionários revelaram vários problemas na liderança Neumann, que fumava maconha no trabalho, servia tequila ao demitir pessoas e chegou a registrar a marca "We" em seu nome só para poder vender depois à sua própria empresa por US$ 5,9 milhões. Ele foi, então, retirado da função de CEO e a companhia passou por uma grande reestruturação, que incluiu demissões em massa e a venda de várias propriedades e negócios.

Leto e Hathaway, no entanto, embarcaram no projeto com o propósito de dissecar essas figuras, tentar ver o lado humano deles e entender o que os motivou -algo parecido com o que disseram as estrelas de séries semelhantes, como "The Dropout", sobre a farsa da Theranos, e "Inventando Anna", sobre a golpista Anna Sorokin.

"Eu acho que todo mundo merece um pouco dessa visão humana -nem todo mundo é completamente bom ou mau. Eu queria garantir, quando aceitei o papel, que nós poderíamos explorar a humanidade aqui, e não só fazer um retrato unidimensional de um vilão", diz o ator. "Não estamos interessados em pôr ninguém para baixo, queremos apenas explorar os seres humanos dessa história", acrescenta a atriz.

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