Redação
“… Dois estudos recentes, um da Universidade da Califórnia, nos EUA, e outro da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, descobriram novos sinais precoces do Alzheimer: a perda de olfato e a dificuldade visual. ‘São pouco associados porque são bastante raros’, tranquiliza a neurologista Elisa França, doutora em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O neurologista Ricardo Nitrini, da Universidade de São Paulo (USP), que participou de uma mesa-redonda sobre Alzheimer ao lado de Elisa França no congresso Brain 2024, pede cautela na interpretação dos novos estudos. ‘Minha preocupação é a de mencionar que redução das acuidades visual e auditiva possam ser marcadores de Alzheimer quando fazem parte do envelhecimento normal’, destaca.
Assim como a perda de olfato ou a redução da visão, nem todo lapso de memória é indício de demência. Mas, como distinguir um do outro? O geriatra Leandro Minozzo, autor de Doença de Alzheimer: Como Se Prevenir (2013) e Como Cuidar de um Familiar com Alzheimer e Não Adoecer (2022), dá algumas pistas.
Se o sujeito dormiu mal, está ansioso ou passou por estresse, as chances de ter um esquecimento são grandes. No entanto, se perdeu o caminho de casa, errou na dose do remédio ou deixou de pagar uma conta, deve consultar um médico. ‘Não é normal que pessoas acima dos 60 anos cometam erros frequentes ou bizarros’, adverte Minozzo. O especialista mais indicado para diagnosticar Alzheimer é neurologista, geriatra e psiquiatra.
O Alzheimer é uma condição neurológica que atinge, segundo a Associação Internacional de Alzheimer (ADI), 55 milhões de pessoas no mundo inteiro – 1,2 milhões só no Brasil. Até 2030, esse número deve subir para 82 milhões e, até 2050, para 152 milhões. O Alzheimer é a forma mais comum de demência (responsável por até 75% dos casos) e adoece mais mulheres do que homens – a proporção é de três para um. Não tem cura, mas tem prevenção. É o que garante o neurologista Fábio Porto, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz).
Alguns fatores de risco não podem ser alterados. Caso da genética (40% dos pacientes têm parentes de primeiro grau com a doença) e da idade (depois dos 85 anos, prevalecem em torno de 50% da população). Outros, no entanto, podem e devem ser modificados. Ou, no caso das doenças crônicas, controlados. Caso do sedentarismo, obesidade, tabagismo, hipertensão, alcoolismo e diabetes. Por essa razão, o combate à doença abrange, entre outras medidas, praticar atividade física, ter uma alimentação saudável e manter a mente ativa.
Inclusive, recentemente uma comissão de especialistas reunidos pela respeitada revista científica The Lancet analisou as melhores e mais atualizadas evidências científicas sobre o assunto e atualizou uma lista com fatores de risco modificáveis para a demência, chegando a 14 itens. A publicação aponta que 45% dos casos da doença no mundo poderiam ser evitados com a mudança desses hábitos ou condições de saúde.
Outra boa notícia: descobriu-se que algumas proteínas associadas à doença, como a beta-amiloide, começam a se acumular no cérebro do paciente cerca de 20 anos antes do surgimento dos primeiros sintomas. ‘O que mudou é a capacidade de detectar precocemente essas proteínas em pessoas com nenhum ou poucos sintomas. No futuro, certos medicamentos serão capazes de retardar ou prevenir a progressão da doença’, acredita Porto.
Um dos aforismos da medicina também se aplica ao Alzheimer: ‘Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor o prognóstico’. Mas, se a doença é incurável, para que serve o diagnóstico precoce?
Quem responde é a geriatra Celene Pinheiro, presidente da ABRAz. O tratamento, pelo menos por enquanto, não consegue estabilizar a doença. Muito menos reverter a demência. Em compensação, retarda seu avanço. E minimiza os sintomas, tanto os cognitivos (memória, linguagem ou raciocínio) quanto os comportamentais (tristeza, depressão ou ansiedade).
A partir do momento em que os sintomas se tornam perceptíveis, o quadro clínico pode ser dividido em quatro fases: inicial, moderada, grave e terminal. Não há consenso sobre o tempo de duração de cada uma delas.
‘Quando a doença é diagnosticada na fase inicial, o paciente tem a chance de ser o protagonista das próprias decisões. É ele, e mais ninguém, que decide o que fazer quanto ao seu futuro ou aos seus cuidados’, explica a geriatra. ‘Quando diagnosticada em fases mais avançadas, essa responsabilidade cabe à família’.”
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