Alagoana testa positivo duas vezes para covid-19; Sesau não confirma reinfecção no Estado

Publicado em 25/12/2020, às 13h55
Fiocruz -

Lelo Macena

Quando chegou ao hospital, na noite do último dia 21 de maio, mês que antecedeu o auge da pandemia em Alagoas, a arquiteta L.S., 37 anos, não apresentava nenhum sintoma. Estava mais preocupada com o marido, que há três dias sofria com febre alta. Os dois haviam feito uma consulta online com um médico. Por via das dúvidas, o doutor pediu exames de tomografia para o casal.

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A arquiteta tomou um susto quando recebeu, na mesma noite, o laudo do exame pelo Whatsapp. “O exame do meu marido deu normal, mas eu estava com 75% do meu pulmão comprometido. Voltei para o hospital e fiquei internada durante seis dias”, conta L. S., que pede para ser identificada apenas pelas iniciais. 

O exame RT-PCR confirmou que casal havia contraído o novo coronavírus. O resultado sairia 30 dias depois, quando L.S. e o Marido já haviam iniciado o tratamento à base de antibióticos. Após se recuperar, a arquiteta passou a ser acompanhada por um pneumologista.

A surpresa maior viria cinco meses depois. No dia 10 de novembro, L.S. adoeceu novamente. Desta vez, apresentava vários sintomas: fadiga, falta de apetite, diarreia, náuseas, perda de paladar e dor no tórax.

Procurou o pneumologista por quem vinha sendo acompanhada. O especialista minimizou o quadro e disse que poderia ser uma inflamação na garganta. “Ele me mandou tomar um relaxante muscular e procurar um otorrinolaringologista”, conta a arquiteta.

Ela decidiu então ir à emergência da Santa Casa de Misericórdia, onde foi feito novo exame de swab e constatado que ela, mais uma vez, havia contraído a Covid-19. “Com exames em mãos, comecei a fazer o tratamento. Mudei de pneumologista, que constatou a reinfecçaõ por covid-19. Ela também descobriu que eu tinha uma peneumonia por hipersensibilidade, possivelmente provocada por mofo”, diz L.S., ao afirmar que seu caso de reinfecção foi notificado pela Santa Casa de Misericórdia.

A arquiteta garante que, além dela, a irmã e uma amiga, que é médica, também testaram positivo duas vezes para Covid-19.

Apesar desses relatos de pacientes que testaram positivo duas vezes para a Covid-19, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) garante que não há casos oficiais confirmados de reinfecção em Alagoas.

Abaixo, os dois exames positivos de L. S.:

Em investigação

A Sesau investiga 24 casos suspeitos de reinfecção: dois em São Miguel dos Campos, um em União dos Palmares, um em Junqueiro, um São Miguel dos Milagres, um em Maragogi e 18 em Maceió. A reportagem do TNH1 questionou à assessoria de comunicação da Sesau se os casos de reinfecção poderiam estar sendo contabilizados como novos casos de covid-19 em Alagoas, mas até a publicação da matéria não havia obido a resposta.

Em texto produzido pela assessoria de comunicação da Sesau, no último dia 18, a infectologista do Hospital da Mulher (HM), Sarah Dominique Dellabianca, explica que a reinfecção por Covid-19 acontece quando, após um período superior a 90 dias, a pessoa acaba sendo infectada novamente pelo novo coronavírus. 

Sarah explica que isso pode acontecer pelo fato de os níveis de imunoglobulina G (IgG), imunoglobulina M (IgM), além de outros anticorpos, responsáveis pela defesa do corpo, caírem em grandes quantidades, tornando a pessoa vulnerável a uma infecção pelo novo coronavírus.

Ainda de acordo com a infectologista, a RT- PCR pode ficar positiva de 80 a 90 dias no paciente. “O que não significa dizer que o vírus da Covid-19 está na sua forma de doença ou transmissão. Ele pode ser apenas o material genético presente na mucosa do nariz ou da garganta. Não é que o vírus esteja vivo, ali; pode ser apenas fragmentos do material genético e, com isso, a pessoa não tem transmissão de partícula viral para outras pessoas. Por isso, a importância de repetir a sorologia após 90 dias da exposição ao novo coronavírus”, recomendou. 

A infectologista Sarah Dominique afirmou que não é fácil confirmar uma reinfecção da Covid-19. “O não guardar da primeira cepa [linhagem] da RT-PCR é um fator impeditivo no Brasil. É necessário ter amostras positivas dos dois contágios, a fim de compará-las por um teste de sequenciamento. Fora do nosso país, alguns laboratórios mais especializados já fazem estoque de tudo que é espécime, até para estudo posterior”, acrescentou. 

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