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Pausa para a leitura: Das histórias de todos nós

► Por Fernanda van der Laan* | 01/10/23 - 09h30

Dedico este espaço as minhas avós - que ficariam escandalizadas com a trajetória da minha vida. Mas sentiriam orgulho. Talvez eu já tenha feito tudo que elas nem sequer foram permitidas a sonhar.

Dedico a minha mãe, que não estudou Geologia porque era indevido para uma mulher. Graduou-se em Letras e me ensinou a ler os Clássicos. Revisora gramatical em minhas criações, além de ser a crítica mais sábia que eu poderia ter. Leitora primeira de tudo, soberana da minha razão. O lugar onde aporto na dúvida é Ela. Dotada das mais nobres faculdades intelectuais, poderia ter sido absolutamente qualquer coisa neste mundo. E hoje é, por vocação, mãe e avó.

Dedico as minhas duas meninas. Gêmeas - que poderão dar vazão aos desejos mais profundos das suas ancestrais femininas. Sem as dores e a culpa que assolaram o destino de todas as mulheres desde o início dos tempos.

E, por fim, dedico a minha tríade inverossímil. Meu sagrado masculino. O pai, o filho e o marido. Que, por ordem dos deuses ou mera casualidade irônica, dividem o mesmo nome e preenchem tudo que em mim é labirinto.

Empreender num projeto extremamente confessional não é tarefa simples. Aos domingos, a partir de hoje, tenho compromisso com um público que ainda não conheço. Como mãe, filha, esposa e mulher, trago em mim a responsabilidade de honrar cada palavra por mim escrita. O que proferimos, seja de forma textual ou verbal é nossa biografia mais idônea. É a força motriz para nossos atos. Ao menos, no meu caso. Contrariando a ordem esperada dos acontecimentos, particularmente, faço e depois penso. Ajo e depois assumo as consequências. A emoção não deveria ser uma sensata conselheira, mas sempre regeu a minha vida e tudo que eu construí e destruí até hoje. Como alguém assumidamente emocional, apresentarei aqui minhas ideias, reflexões e vulnerabilidades. De fato, a história contada sempre é ficcional, então me eximo do benefício da narrativa sem estar engessada em nenhum padrão determinado por correntes literárias, apesar de me identificar com a Literatura de Vanguarda de Borges, Beckett, Woolf, da russa Marina Tsvetáieva e daquela que talvez sido a minha maior inspiração de todas, Sylvia. Não vou mencionar o sobrenome, em alguma instância, a considero extraordinariamente próxima de mim.

Esperem temas randômicos, esperem lirismo na prosa, esperem emoções hiperbólicas, esperem incoerências. Esperem reflexões cotidianas. Esperem o superlativo absoluto sintético.

Eu, como entusiasta das artes, literatura e psicanálise, considero extremamente importante a perspectiva do Outro. Todas as pessoas, de algum modo, me interessam e este espaço será sempre simpatizante a sugestões e críticas diversas. Eu tenho convicção plena que todos, em alguma esfera, podem acrescentar preciosidades à minha vida.

A mais concreta certeza da existência é a efemeridade. Sim, num piscar de olhos é fim. E a característica fundamental da vida é a imprevisibilidade. Coisas inesperadas podem acontecer sem aviso e mudar o rumo de tudo. Diante disto, trago a realidade de uma perspectiva emocionada e humana.

Que esse seja o prólogo de uma história incrível, onde caminharemos lado a lado, eu e o leitor, nessa jornada deslumbrante de autoconhecimento e libertação que as palavras que eu escrevo nunca conseguirão decifrar.

► *FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima