Oscar Schmidt xinga Franca, revolta moradores e pede desculpas

Publicado em 04/11/2023, às 18h01
Imagem de arquivo | Reprodução / Twitter / NBA Brasil
Imagem de arquivo | Reprodução / Twitter / NBA Brasil

Por Marcelo Toledo / Folhapress

O ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, 65, gerou revolta em Franca (a 400 km de São Paulo) ao qualificar a cidade como um "puta lugar de merda" durante participação num podcast na quinta-feira (2).
Em nota neste sábado (4), Oscar pediu desculpas aos francanos.

A afirmação polêmica foi feita no Ticaracaticast, dos humoristas Márvio Lúcio (Carioca) e Marcos Chiesa (Bola), em conversa com participação do também ex-jogador Marcel Souza, outro ícone do basquete nacional.

Franca é uma cidade de 352 mil habitantes, também conhecida como capital do calçado masculino, e que abriga o mais tradicional clube do basquete brasileiro, atual campeão intercontinental.

Depois de Marcel ter afirmado que jogar contra Franca era um "barato" por causa da rivalidade, Oscar disse que Franca pediu para que ele tomasse conta do time no passado, por patrocínio, e que ele não aceitou a proposta.

"Eu falei 'Não, porra, não vou fazer isso, cara. Fica com o de vocês aí, que eu fico com o meu lá em São Paulo'. Imagina, eu vou pra Franca? Puta lugar de merda", afirmou Oscar.

Carioca riu e ponderou, dizendo que a cidade era boa, "só um pouco longe de São Paulo". Marcel disse, na sequência, que gostava de Franca.

Oscar e Marcel conquistaram o Mundial de Clubes com o Sírio, em 1979, e foram medalhistas de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1987, em Indianápolis, nos Estados Unidos –vitória que é considerada uma das maiores da história do basquete brasileiro.

Sírio e Franca foram fortes rivais no basquete paulista. Nos anos 70, por exemplo, cada um conquistou quatro estaduais. Se o Sírio desfez a equipe profissional, Franca sempre se manteve ativa, mas não sem enfrentar problemas financeiros –chegou a ter dificuldades para comprar uniformes no início dos anos 2000.

A afirmação de Oscar gerou revolta na cidade, que tem uma bola de basquete em sua bandeira e cujo clube, o Sesi Franca Basquete, conquistou, no fim de setembro, o título de campeão intercontinental em Singapura, considerado o mundial de clubes da Fiba (Federação Internacional de Basquete).

Políticos, empresários, entidades e torcedores criticaram a fala do maior pontuador dos Jogos Olímpicos e integrante do Hall da Fama do basquete.

"Repudio, veementemente, as ridículas e lamentáveis declarações do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt. As conquistas de Franca, do basquete francano e da nossa gente continuam, realmente, gerando muita 'dor de cotovelo' em alguns por aí", disse o prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (MDB).

A Udecif (União de Defesa da Cidadania de Franca) divulgou nota de repúdio pela forma como Oscar tratou a cidade, listou títulos obtidos pela equipe em sua história e disse que todos os times "têm ou já tiveram em algum momento em seus quadros profissionais oriundos de nossa cidade".

"Requeremos a imediata retratação formal da fala infeliz de vossa senhoria", diz a nota.

Deputados estaduais de partidos antagônicos, mas com base na cidade, também criticaram a fala do ex-jogador, como Guilherme Cortez (PSOL) e Graciela Ambrósio (PL).

"Oscar perdeu duas oportunidades: a de ficar calado e fazer parte da história do maior time de basquete do Brasil. Felizmente, seu desrespeito e ressentimento nunca fizeram falta para o Franca Basquete se tornar o maior do mundo", disse Cortez.

Um vídeo divulgado em redes sociais mostra um empresário do ramo gastronômico colocando uma camisa de basquete de Oscar para ser usada como capacho em seu estabelecimento.

Já o Sesi Franca Basquete postou no X (ex-Twitter) que "O circo só pega fogo quando dá confiança. Fique em silêncio e o espetáculo acaba". A frase foi criticada por torcedores, que pediram uma postura mais enfática contra a fala do ex-jogador.

Procurado pela reportagem neste sábado, Oscar respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que "naquele momento", se referia "a situações especificas, vividas dentro de quadra, e jamais à cidade; para falar a verdade, se mais cidades fossem como Franca, o nível do basquete brasileiro seria muito maior".

"Me desculpem sinceramente pelo comentário que fiz na entrevista", diz a nota, endereçada ao "pessoal de Franca". "Vocês estão vivendo um momento lindo no basquete, são campeões mundiais, e de forma alguma merecem manchar esse momento com uma declaração completamente fora de tom e sem sentido dada por mim."

MUNDIAL SEM NBA - A vitória no intercontinental também foi comentada por Marcel no podcast, ao questionar a força do adversário derrotado na final –Telekom Baskets Bonn, da Alemanha.

A competição não inclui equipes que disputam a NBA e nem sempre contou com os principais clubes europeus, caso da edição atual. O Bonn disputou o torneio por vencer a Liga dos Campeões da Fiba, criada há sete temporadas na Europa para concorrer com a Euroliga, que reúne as principais equipes do continente, como o Real Madrid.

Além do intercontinental em Singapura, o Sesi Franca Basquete tem sido o principal vitorioso entre os clubes brasileiros nos últimos anos.

Atual bicampeão do NBB (Novo Basquete Brasil), Franca conquistou em abril a Champions League das Américas, ao derrotar o Flamengo, 4 dos últimos 6 paulistas e é o atual vencedor da Copa Super 8. Na história, obteve 15 títulos estaduais, 13 nacionais, 6 sul-americanos e 4 pan-americanos.

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