"Há comportamentos necessários e condizentes com a civilidade, o bom convívio social e mesmo o decoro que certas situações exigem, sem falar, é claro, no princípio basilar da dignidade e do respeito humano.
O que vale na vida privada, muitas vezes, não se faz necessário na vida pública e vice-versa. Principalmente as questões de extrema relevância e impacto na sociedade. Uma coisa, contudo, é notícia, análise. Outra, bem diferente, é fofoca.
Quando o presidente Lula sofreu uma queda em seu banheiro, em outubro passado, escrevi a respeito. Minha opinião, à época, era de que, infelizmente, haveria consequências futuras, seja pela idade ou mesmo a gravidade do evento.
No dia seguinte, inclusive, voltei a escrever a respeito. Apontei, como no dia anterior, a gravidade do caso. Não é preciso ter fonte interna ou interlocutor próximo, para saber que a queda de um idoso traria repercussões em curto e médio prazos.
Não tenho o menor apreço pelo presidente Lula, pelo que ele costuma falar e pelo modo como sempre fez política. Para mim, sob minhas crenças e meus valores, é um dos grandes reponsáveis pelo estado miserável de coisaa em curso no Brasil.
Mas, atenção: isso jamais me fez torcer ou desejar seu adoecimento. Durante a pandemia, aliás, de forma equivocada, mas movido por uma ira justificada, desejei publicamente que Bolsonaro contraísse covid, e me arrependo profundamente de ter escrito isso.
Quando analisei o quadro de saúde de Lula e previ repercussões futuras, o fiz não por crença e desejo pessoais, mas por experiência de vida – por ter acompanhado, durante anos, o envelhecimento e o adoecimento de meus pais, inclusive por causa de tombos.
Tratar deste assunto publicamente, com os devidos respeito e cuidado, não é impróprio nem muito menos inoportuno. No Brasil, há uma espécie de tabu a respeito, como se projetar a ausência de um presidente da República fosse algo imoral.
Penso que, quanto mais preparado estiver o país para uma sucessão, se vier a ocorrer, menos traumático será o momento e mais maduro estará o universo político, afinal, não estamos falando de uma pessoa ou de uma família, mas de 213 milhões de brasileiros.
Lula, a meu ver, deveria deixar a política ao final deste mandato. Sua presença traz força a agentes tão ou mais nocivos que ele, politicamente falando, é claro. Além disso, impede – como sempre impediu – a renovação dos quadros dos partidos políticos de esquerda.
O próprio Partido dos Trabalhadores (PT) padece desse mal. Figuras deletérias – sempre politicamente falando – como a presidente nacional e deputada federal, Gleisi Hoffmann, só mantêm tanto poder por serem apadrinhadas pelo chefão do bando.
Não comungo com a maioria das crenças de esquerda, mas reconheço não apenas a importância de sua voz, como a imprescindibilidade de sua presença. Pensamento e partido únicos jamais terminam em coisa boa. Ao contrário. Vide quaisquer ditaduras mundo afora.
Não vou especular, aqui, sobre a possibilidade do agravamento da saúde do presidente da República. Tampouco irei fingir que tal cenário é impossível. Considero, apenas, mais que oportuno, necessário o início do debate sucessório – dentro e fora do governo.
Geraldo Alckmin, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Eduardo Leite, Ratinho Júnior, Fernando Haddad… Os prováveis presidenciáveis e seus grupos de apoio precisam começar a fazer planos e contas com vias a 2026 e, sim – por que não? – até antes.
Que Lula tenha saúde para terminar seu mandato. Aliás, que tenha saúde para viver quantos anos possa o destino lhe conferir.
Apenas acho que 'não custa nada' sermos, como sociedade, maduros e racionais o suficiente, para debater algo tão real e sério assim."
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