Mãe de Elisa Samudio diz que neto não quer conhecer o goleiro Bruno

Publicado em 12/08/2020, às 11h14
Foto: Reprodução / Extra
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Por Extra

Uma década depois do assassinato de Eliza Samudio, ex-namorada do goleiro Bruno (que foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo crime), Bruninho, de 10 anos, filho do casal, soube de toda a tragédia somente no ano passado, quando perguntou a avó materna sobre o pai.

"Sempre falei pra ele que na hora que ele quisesse saber a verdade, eu contaria. Ele ficou assustado, porque eu contei que o pai dele matou uma pessoa e havia tentando contra a vida de uma outra, mas que essa outra pessoa estava viva e bem. Mas quando ele me fez a pergunta: 'quem era a outra pessoa', eu respondi: 'era você'. Ele ficou se perguntando o por quê, e eu disse que ainda não sabia", relatou Sônia Silva Moraes, mãe de Eliza, ao EXTRA.

A avó, que tem a guarda do menino, diz que durante todos esse anos vem filtrando as informações que chegam ao neto para não machucá-lo ainda mais. A avó também falou do sentimento do neto pelo pai.

"Ele só não tem conhecimento da forma como a mãe foi assassinada. Sempre quando passa algum noticiário sobre o pai dele, eu pego e desligo a TV. Fico vigiando, mas uma hora ele vai entrar na internet e descobrir muitas coisas. Ele sabe que a mãe dele foi morta, que os assassinos sumiram com o corpo e que o pai foi condenado. As pessoas acham que ele é uma criança que odeia o pai, e não é. Outro dia mesmo ele falou para uma amiga minha que perguntou se ele tinha raiva, mágoa ou ódio do pai, e ele respondeu: 'Não posso ter raiva nem amor daquilo que eu não conheço'".

Eliza Samudio foi assassinada em 2010. Foto: Reprodução

Segundo a mãe de Eliza, Bruninho não quer contato com o pai. Sônia Moraes afirma ainda que vai respeitar a vontade da criança caso um dia ele queira se aproximar do goleiro.

"Até hoje ele não manifestou a vontade de conhecer o pai, mas se ele quiser, eu vou respeitar. Não posso fazer uma escolha por ele. Vou apoiá-lo. Mas hoje o meu neto não quer ter contato com o pai. Afinal de contas, tiraram o bem maior dele, a mãe", diz.

Bruninho mora com os avós em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A família vive da renda do marido de Sônia, que trabalha com tapeçaria. O menino estuda numa escola particular da região e adora brincar com amigos e com os animais de estimação (duas calopsitas e quatro cachorros). Sônia tem mais um filho, de 21 anos.

Ela conta que a primeira vez que falou do goleiro com o neto foi quando Bruninho tinha 6 anos e afirma que nunca incentivou que a criança alimentasse ódio pelo pai.

"Diferentemente de alguns comentários que eu vejo, eu não promovo o ódio do Bruninho contra o pai dele. Não faço alienação parental contra o pai. Eu, pessoalmente, deveria querer que o Bruno sumisse da face da Terra, mas não é isso. Quero que ele viva, que Deus abençoe a vida dele, porque o que ele fez com a minha filha, ele vai pagar aqui".

Durante a conversa por telefone, Sônia se mostra indignada com o fato de Bruno estar cumprindo a pena em regime aberto e ter voltado a jogar.

"Ele tirou a vida da minha filha e o direito do meu neto de ter a mãe por perto. No entanto, ele mesmo sendo um assassino, não teve os direitos tirados pela Justiça. O Bruno anda livremente para tudo quanto é canto, não tem uma vigilância. Não é justo", diz, indignada.

Ainda durante a entrevista, a mãe de Eliza Samudio chora ao lembrar o que aconteceu com a filha: "Não tenho ódio do Bruno, mas eu tenho muita dor. E essa dor que eu tenho, eu carrego todos os dias comigo. E você pode ter certeza que é a mesma dor que o meu neto carrega, sabendo que tem um pai assassino e que o próprio pai mandou matar a mãe".

Exame de DNA

Sônia Moraes informou que o goleiro Bruno entrou com o pedido de DNA em 2014 no Mato Grosso do Sul, onde a criança mora com os avós maternos, exigindo que o exame fosse feito em Minas Gerais.

"Por que fazer esse exame em Minas Gerais se o domicílio do meu neto é aqui em Campo Grande?", questionou a avó de Bruninho, Sônia Silva Moraes, de 54 anos, informando que o pedido de DNA está no STF

Ela afirma ainda que chegou a oferecer material genético dela e do neto para que fosse feito um exame em 2010, mas que o próprio Bruno teria dito que não precisava da comprovação de paternidade, pois, segundo Sônia, o jogador dizia saber que o menino era seu filho.

"Em 2010, eu ofereci o meu material genético e do meu neto para fazer o exame de DNA, e o Bruno não quis. E ele toda a vida disse que não tinha necessidade de fazer porque ele era o pai. Por que que agora diz que não pode ser o pai?", afirma a mãe de Elisa.

Em entrevista ao site ContilNet, Bruninho disse, através de um áudio enviado pela avó, que o pai não deveria estar solto.

“No mínimo, ele deveria ficar em prisão perpétua, porque eu acho uma sacanagem tirar a vida de um ser humano. Não existe nenhum motivo que explique isso. Nenhum. Infelizmente ele é uma ameaça para a sociedade, e eu me sinto muito ameaçado com isso”, desabafou o menino.

Bruno Fernandes treina em campo de Cabo Frio Foto: Sandro Cardozo

Relembre o caso

Eliza tinha 25 anos e teve um filho com o atleta, após se relacionarem em 2009. Depois de conflitos por conta da gravidez e pedidos para que ela fizesse um aborto, Bruno foi denunciado por ela à polícia por agressão.

No episódio relatado por Eliza, Bruno teria obrigado-a a tomar pílulas abortivas e, depois, agredido-a com tapas, enquanto amigos do goleiro que estavam portando armas ajudaram na ação. Ela estava grávida de cinco meses na ocasião. Em junho de 2010, Eliza foi vítima de cárcere privado, estrangulamento e esquartejamento no sítio de Bruno em Minas Gerais. Em depoimento, o goleiro relatou que seus restos mortais foram jogados para cachorros.

Bruno foi condenado a 17 anos e 6 meses em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), a outros 3 anos e 3 meses em regime aberto por sequestro e cárcere privado de Bruninho e ainda a mais 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver. Esta última pena, porém, foi extinta após a Justiça entender que o crime prescreveu.

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