Gripe aviária: Como humanos pegam? Quantas pessoas já foram infectadas? Tire dúvidas

Publicado em 30/05/2023, às 23h30
Reprodução/Elisa Ilha
Reprodução/Elisa Ilha

Por g1

Depois de circular por mais de 20 anos no mundo, a gripe aviária H5N1 teve o 1º caso registrado no Brasil no dia 15 de maio. Até agora, 13 aves de espécies migratórias e silvestres (que vivem na natureza) foram infectadas.

O foco, neste momento, é evitar que o H5N1 chegue aos aviários do Brasil, que é o principal exportador de carne de frango do mundo, e segundo maior produtor global, atrás dos EUA.

A doença se espalha rapidamente entre os pássaros: de 2005 a abril de 2023, mais de 400 milhões de aves domésticas foram sacrificadas por causa da gripe aviária, em países da África, Ásia e Pacífico, Américas, Europa e Oriente Médio, diz a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH).

Humanos podem pegar gripe aviária?

Sim. Os casos são raros, mas a taxa de mortalidade é alta: por volta de 52%.

De 2003 a abril de 2023, apenas 874 pessoas foram infectadas com H5N1 no mundo. Apesar disso, metade delas (458) morreu.

O dado é da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Nas Américas, só há registros de 3 pessoas infectadas até o momento:

  • o primeiro nos Estados Unidos, em abril de 2022;
  • o segundo no Equador, em janeiro de 2023;
  • e o terceiro no Chile, em março de 2023.

Os infectados nos EUA e Equador se recuperaram, mas não há detalhamento do caso do Chile. Os dados são de um relatório do dia 17 de maio, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

Nos EUA, a contaminação ocorreu em um homem que trabalhava no abate de aves em uma granja, no Colorado, onde o H5N1 foi detectado em animais.

Já no Equador, a doença foi identificada em uma menina de 9 anos, habitante de uma área rural da província de Bolívar, que estava em contato com aves de quintal, que morreram sem causa aparente.

Há pessoas infectadas no Brasil?

Não. Até o momento, os casos suspeitos foram descartados, diz o Ministério da Saúde.

Ao todo, 42 pessoas tiveram contato com aves doentes no Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Deste total, 38 testaram negativo para H5N1, e outras quatro amostras estão em análise.

Como uma pessoa se contamina?

Quando tem contato direto com as secreções e fluídos de um animal infectado, esteja ele vivo ou morto. Isso porque as aves eliminam o vírus da Influenza por meio das fezes e secreções respiratórias.

É por isso que não se deve tocar e nem recolher aves doentes, afirma o Ministério da Agricultura.

A doença pode ser transmitida ainda por água e objetos contaminados com essas secreções, acrescenta a OMS.

O Departamento de Agricultura dos EUA tem observado que as infecções humanas ocorrem, geralmente, após exposições desprotegidas a aves: sem uso de proteção respiratória ou ocular.

Posso pegar H5N1 comendo carne?

Não. Até o momento, não há registros de contaminação de gripe aviária a partir do consumo de frango ou ovos devidamente preparados, afirmam o Ministério da Agricultura e Organização Mundial de Saúde (OMS).

Humano passa para humano?

Não. Até agora, nenhuma transmissão de gripe aviária de humano para humano foi relatada nas Américas ou globalmente, aponta a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

Quais os sintomas nas pessoas?

Segundo a OMS, os sintomas em humanos são:

  • Febre alta (acima de 38°C)
  • Tosse;
  • Dor de garganta;
  • Dores musculares;
  • A infecção pode progredir rapidamente para doença respiratória grave(por exemplo, dificuldade em respirar ou falta de ar, pneumonia, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo), e alterações neurológicas (estado mental alterado ou convulsões).

“Podemos ter desde quadros assintomáticos – ou seja, sem nenhuma manifestação clínica –, até casos bastante graves que podem levar ao óbito", diz o infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo (SP).

“Os quadros sintomáticos são semelhantes a uma gripe comum: tosse, dor de garganta, nariz entupido, dor de cabeça e pode ter diarreia”, acrescenta.

"Quando a gente fala de formas graves relacionadas à gripe aviária, grande parte dos pacientes vão ter pneumonia. Entre as complicações, também há falência de múltiplos órgãos, principalmente com disfunção renal, comprometimento cardíaco, hemorragia pulmonar, pneumotórax".

Como uma pessoa morre de H5N1?

A maioria das mortes por H5N1 está relacionada a casos de insuficiência respiratória, afirmam Weissmann, do Emílio Ribas, e a infectologista Carla Kobayashi, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.

Quem corre mais risco?

As pessoas expostas a aves infectadas. Exemplos: criadores de aves e pessoas envolvidas no controle de surtos.

Segundo a OPAS, os profissionais da saúde também têm risco de infecção se não seguirem medidas adequadas de prevenção e controle.

Há chance de pandemia?

Só há chance de isso acontecer se o vírus H5N1 sofrer mutações genéticas que o possibilite ser transmitido de pessoa para pessoa, explicam infectologistas entrevistados pelo g1.

Não há motivo para alarde entre a população, diz o infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo (SP).

Órgãos como o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm dito que a transmissão de H5N1 de pessoa para pessoa “não é sustentada” e “não é comum”.

Esses termos significam dizer o seguinte: que um humano que contraiu a H5N1 de uma ave pode até passar o vírus para uma outra pessoa, mas a transmissão para por aí: a segunda pessoa infectada não transmite para uma terceira, ilustra a médica infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein Emy Akiyama Gouveia.

Alguns fatores podem ter dificultado a mutação do H5N1 até hoje, indica o infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo (SP).

  • Um deles é a alta taxa de mortalidade entre os humanos por H5N1. "Isso acaba interrompendo a passagem do vírus de uma pessoa para outra”;
  • Um segundo ponto é que, toda vez em que há um surto entre as aves, elas são sacrificadas. Ou seja, os focos de H5N1 têm sido eliminados por meio da morte dos animais.

Por que órgãos de saúde estão preocupados?

Os órgãos de saúde estão preocupados se haverá mutação do H5N1 para humanos. Isso porque:

O H5N1 chegou a países que, antes, estavam protegidos: desde o final de 2022, o vírus começou a se espalhar pela América, para países como Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Panamá, Peru, Venezuela e Chile.

No início de 2023, a Argentina e o Uruguai detectaram os seus primeiros casos, enquanto o Paraguai e o Brasil registraram as primeiras ocorrências neste mês.

Quanto mais aves contaminadas, mais chances de um humano contrair a doença.

Animais mamíferos começaram a contrair H5N1 nos últimos anos. Exemplos: lontras, ursos, porcos, raposas, gambás, entre outros.

Um dos casos mais preocupantes ocorreu em abril deste ano, quando mais de 3 mil leões-marinhos morreram por suspeita de H5N1, no Peru.

Já nesta quinta-feira (25), o Chile informou que quase 9 mil animais mamíferos marinhos morreram em 2023 devido à gripe aviária, que tem afetado severamente a costa norte do país. Entre os animais mortos estão lobos-marinhos, pinguins-de-Humboldt e lontras.

“É improvável que todos aqueles leões-marinhos tenham sido infectados por contato com as aves. Infelizmente a suspeita é de que a transmissão tenha ocorrido de mamífero para mamífero", afirma a infectologista Carla Kobayashi, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.

"As células dos mamíferos são muito mais semelhantes às nossas do que as células de uma ave. Essa é a grande preocupação: de o vírus conseguir se adaptar, a ponto de ser capaz de ser transmitido de homem para homem", acrescenta.

O que é e onde surgiu a H5N1?

H5N1 é um subtipo do vírus Influenza que atinge, predominantemente, as aves.

Os vírus Influenza são divididos entre os de Baixa Patogenicidade (LPAI, leve) e os de Alta Patogenicidade (HPAI, grave).

O H5N1 faz parte do segundo grupo: isso significa que ele é disseminado rapidamente entre as aves e tem um alto índice de mortalidade entre os animais.

A Influenza Aviária foi diagnosticada pela primeira vez em aves em 1878, na Itália. Mas o H5N1 só foi isolado por cientistas mais de 100 anos depois, em 1996, em gansos na província de Guangdong, no sul da China.

No ano seguinte, ocorreu o primeiro registro da doença em humanos, em Hong Kong, segundo um documento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Há vacinas para humanos?

Ainda não. Desde janeiro, o Instituto Butantan está desenvolvendo uma vacina para humanos contra a gripe aviária.

Segundo o instituto, os testes estão sendo realizados com cepas vacinais que foram cedidas pela OMS e o primeiro lote já está pronto para o início dos testes pré-clínicos, ou seja, testes em laboratório.

"A OMS recomenda que profissionais do setor de granjas recebam a vacina da influenza, a fim de prevenir uma mutação viral que favoreça a transmissão entre humanos [...] a vacina sazonal disponível vai auxiliar na diminuição de possibilidade de mutações", diz a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Einstein.

Há vacinas para aves?

Sim, mas elas não são 100% eficazes e ainda estão sendo estudadas, afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

"A vacina para aves traz consigo um outro problema: os países importadores não aceitam porque, dessa forma, não conseguem saber se o vírus que está na ave é o vírus da vacina ou da doença", destaca.

Segundo a Embrapa, a vacinação das aves tem sido utilizada em países da Ásia, como a China. Contudo, ela ainda não foi capaz de conter totalmente o H5N1, e focos da doença continuam sendo relatados na região.

Quantas aves foram contaminadas no Brasil?

Até o momento, 13 focos de contaminação. Os primeiros casos ocorreram no dia 15 de maio. Nenhum animal voltado para o consumo humano foi atingido. Os pássaros infectados são das seguintes espécies:

  • Trinta-réis-de-bando (espécie Thalasseus acuflavidus): migratórios e marinhos. Cinco foram encontrados no Espírito Santo, e três no Rio de Janeiro;
  • Trinta-réis-boreal (espécie Sterna hirundo), encontrado no ES;
  • Trinta-réis-real (espécie Thalasseus maximus): silvestre e migratório, encontrado no ES;
  • Atobá-pardo (espécie Sula leucogaster): marinho e migratório, encontrado no ES;
  • Corujinha-do-mato (espécie Megascops choliba), encontrado no ES;
  • Cisne-de-pescoço-preto (espécie Cygnus melancoryphus), encontrado no RS.

Quais os sintomas em aves?

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, os sintomas em aves são:

  • dificuldade respiratória;
  • secreção nasal ou ocular;
  • espirros;
  • andar cambaleante;
  • pescoço torto;
  • diarreia;
  • alterações bruscas no consumo de água e ração nas aves de criação;
  • redução na produção ou má formação de ovos;
  • alta mortalidade em aves domésticas ou silvestres.

Qual é a principal preocupação do Brasil?

A maior preocupação, neste momento, é evitar que a gripe aviária chegue nas granjas e na criação de aves para a alimentação própria.

Isso porque a gripe aviária se espalha rapidamente entre os animais. Caso ela se dissemine, os animais precisarão ser sacrificados, o que diminuiria a oferta de carne de frango e ovos.

O que é estado de emergência zoossanitária?

Nesta semana, o Ministério da Agricultura declarou estado de emergência zoossanitária por 6 meses por causa da gripe aviária (H5N1)

Esse status é decretado sempre que há um risco de uma doença se propagar rapidamente entre os animais. É uma forma de o governo se antecipar a um surto da doença.

Ao declarar emergência zoossanitária, o governo consegue agilizar processos para combater a doença.

Exemplos: contratar funcionário por tempo determinado, reduzir a burocracia para comprar equipamentos ou deslocar servidores de um estado para o outro, explica o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

O que o Brasil tem feito?

As granjas, as associações empresariais, o Ministério da Agricultura e os órgãos estaduais de agricultura já trabalham há muitos anos no monitoramento da gripe aviária.

Bem antes do H5N1 chegar ao Brasil, órgãos públicos já elaboravam planos de contingência e monitoravam a situação do país. Alguns sites desses órgãos, por exemplo, já tinham cartilhas e uma série de orientações aos avicultores.

Em março deste ano, depois de a gripe ter avançado para Argentina e Uruguai, o Ministério da Agricultura proibiu a realização de exposições, torneios, feiras e outros eventos com aglomeração de aves, além da criação de aves ao ar livre, com acesso a piquetes sem telas na parte superior, em estabelecimentos registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

A indústria, por sua vez, trabalhava há muitos anos sob rígidas regras de higiene e controle, estabelecidas pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), em 1994, destaca Santin.

"Algumas dessas regras são o telamento para que os passarinhos pequenos não entrem em contato com as aves. Há todo um aparato de proteção dos funcionários, que usam roupas e calçados exclusivos. Há higienização dos caminhões que entram nas granjas, entre outros".

"O Brasil ficou livre de H5N1 durante toda a história, até hoje, por causa dessas regras", reforça.

Os aviários já estavam restritos a visitas há alguns meses, no entanto, neste momento, estão totalmente fechados a visitação, em todo o Brasil. "Só entra quem é realmente necessário", reforça Santin.

Qual é o principal fator de contaminação entre as aves?

A exposição direta a aves silvestres migratórias infectadas é o principal fator de transmissão, diz o Ministério da Agricultura.

As principais espécies silvestres portadoras da doença são as marinhas, gaivotas e aves costeiras.

Essas aves atuam como hospedeiro natural e reservatório dos vírus, desempenhando um papel importante na evolução, manutenção e disseminação desse vírus.

Além disso, apresentam infecção sem adoecer, o que permite a elas transportar o vírus a longas distâncias ao longo das rotas de migração, destaca o ministério.

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