Quem passar pelo Maceió Shopping até o dia 06 de março terá a oportunidade de ver uma exposição de carnaval do Museu Théo Brandão (MTB). A mostra "Reino dos bobos" exibe máscaras do saudoso mestre Gilberto Tatuamunha e do Bobo Gaiato, coletivo formado por jovens de Porto de Pedras.
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As máscaras do coletivo que integram a mostra são de Thiago Souza, Vitão e Luciano da Silva, filho do mestre Gilberto. Além das máscaras, a exposição vai contar com peças representativas das festas de momo, como a boneca gigante "Mamãe", e estandartes de carnaval de Persivaldo Figueirôa, de Gil Lopes e de outros artistas.
Os bobos são parte das tradições de Porto de Pedras. Até a década de 1990, era costume a feitura das irreverentes máscaras. A partir dos anos 2000, a prática foi sendo esquecida, mas o mestre Gilberto Tatuamunha resistiu às mudanças e deu continuidade ao saber da região.
Coube ao fotógrafo Celso Brandão dar visibilidade ao fazer artístico do mestre Gilberto. Por volta de 1989, ele soube da existência de um mascareiro no povoado de Tatuamunha e não perdeu tempo. "Aproveitando o iminente sábado de carnaval, mais que depressa lá cheguei, flagrando aquela cena surreal que poucas vezes acontecem na vida de um inveterado caçador de imagens. As máscaras de papel eram absolutamente geniais, com um forte caráter africano de dar inveja aos modernistas europeus, sendo graciosamente usadas pelos foliões locais, devidamente alcoolizados e em meio aquela natureza paradisíaca. Finda a brincadeira, tratei de adquirir os cabeções que resistiram aos maus tratos momescos , começando assim uma longa relação de amizade e clientela com esse mestre folião que nos legou um fabuloso patrimônio cultural. Salve Senhor Gilberto, o mascareiro de Tatuamunha", exalta Celso.
Tradição viva - Foi ainda na adolescência que Gilberto Tatuamunha aprendeu a arte de confeccionar as máscaras de bobos, com barro, goma de mandioca, papel e tintas. Autodidata, a vontade de brincar o carnaval com os amigos o levou a criar as primeiras máscaras, numa época em que os bobos dominavam as ruas de Tatuamunha. O artista, que também era pedreiro, foi o responsável por manter viva a tradição desse saber popular. O mestre se foi em 2020, aos 71 anos, deixando um legado de talento e alegria.
Para manter viva a tradição, surgiu o coletivo Bobo gaiato, formado por amigos que buscam estimular novos mascareiros, resgatar o trabalho de salvaguarda da brincadeira, eternizar o legado e fortalecer a memória do mestre Gilberto. O idealizador do coletivo, Thiago Souza, explica que, nos últimos anos, a máscara de bobo não estava mais cumprindo a função social de ser utilizada para o carnaval. "Era produzida mais para ser contemplada, com um grande potencial artístico, principalmente com a inserção do turismo na cidade. O Bobo gaiato quer retomar a tradição mascareira por meio do uso social dessa máscara na rua, para brincar o carnaval, sair de bobo", ressalta.
O idealizador revela que o nome do coletivo surgiu pela ideia de levar irreverência. "Gaiato é pela gaiatice, por todos os adjetivos que advém daí: o brincalhão, o esperto", contou Thiago, que sempre acompanhou a trajetória das máscaras. "Cresci saindo de bobo. Cheguei a aprender a fazer a máscara tradicional. Ela era muito utilizada nas ruas pelas pessoas. Toda a cidade se mobilizava para fazer as máscara e brincar o carnaval. No Centro de Porto de Pedras, havia um cortejo juntando todos os grupos que faziam máscaras. Depois, eu peguei uma fase de transição, nos anos 90, da máscara de papietagem para a de borracha, que eu também passei a usar para sair de bobo. Depois, acompanhei o declínio da tradição dos bobos nas ruas", lembra.
O trabalho desenvolvido pelo coletivo tem dado resultados na cidade, retomando o uso da máscara para a brincadeira carnavalesca. "Temos essa responsabilidade de dar continuidade a essa tradição tão importante. Hoje, temos mascareiros jovens. Tem uma nova geração disposta a dar continuidade", disse Thiago.
A exposição, com curadoria da museóloga Hildênia Oliveira, é uma realização do Museu Théo Brandão, Bobo Gaiato, Celso Brandão e Maceió Shopping. A mostra revela parte da obra dessa nova geração de mascareiros num diálogo com as tradicionais máscaras do mestre, cujo legado segue perpetuado, eternizando a alegria de um carnaval que resiste.
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