LEIA TAMBÉM
Clubes de assinatura que revendem produtos de terceiros surgem com a proposta de dar visibilidade a produtos feitos por mulheres ou com foco no público feminino.
É o caso da Lingebox, serviço de lingerie criado em 2020 com o intuito de facilitar a seleção das peças pelas clientes. Cofundadora e CEO, Karol Coutinho conta que a empresa surgiu a partir da percepção de que a roupa íntima tem impacto direto na autoestima das mulheres.
"Um dia fui comprar lingerie e senti que não tinha coragem de experimentar algo diferente. Achava que gostaria de ganhar apenas como presente de alguém, mas depois pensei que eu deveria conseguir me autopresentear, mas não conseguia escolher."
Antes de abrir o negócio, ela fez alguns posts nas redes para testar a demanda pelo serviço de lingerie por assinatura. E ficou surpresa com a resposta. Em três meses, havia juntado 40 pessoas interessadas.
A Lingebox já enviou mais de 10 mil caixas, que saem do centro de distribuição em São Paulo e vão para clientes de todo o país. As embalagens externas são discretas, mas a parte de dentro é feita para parecer um presente.
Cada pacote contém duas peças em conjunto, que podem ser sutiãs, calcinhas, bodies, camisolas, pijamas e robes de diversas marcas. A seleção é feita a partir de um formulário que inclui questões sobre tamanho, preferências de estilo, cores e tipos de peça e se a mulher está noiva, grávida ou amamentando.
Com preços que variam entre R$ 145 e R$ 189, a depender da assinatura (anual, semestral ou mensal), as caixas têm preços menores que os encontrados diretamente nas lojas. Uma das últimas coleções enviadas é da marca Jogê, por exemplo, que vende separadamente os mesmos sutiãs a partir de R$ 178 e as mesmas calcinhas a partir de R$ 78.
Segundo Coutinho, a negociação é positiva tanto para o clube quanto para os fornecedores. "Outros lojistas compram quatro ou cinco vezes ao ano. Eu compro, todo mês, coleções novas e também aquelas que o fornecedor não vai conseguir levar para as franquias. Por isso ele me cede um valor mais bacana", diz ela, que trabalha com outras duas pessoas e fatura de R$ 60 mil a R$ 80 mil a por mês.
A criação da Amora Livros, de Curitiba (PR), também partiu de uma demanda interna das sócias, que já tinham algum conhecimento sobre o mercado livreiro, mas perceberam ter poucas referências femininas em suas leituras.
"Resolvemos criar um clube de assinatura de escritoras porque já existem muitas mulheres escrevendo e sendo publicadas. Queríamos fazer essa roda girar", afirma Patricia Papp, uma das fundadoras do serviço, que seleciona todo mês um romance escrito por autoras contemporâneas.
Lançado em fevereiro de 2022, o clube tem cerca de 400 assinantes espalhados pelo país -mulheres são 90%.
Os planos disponíveis variam entre anual, semestral ou mensal e vão de R$ 64,90 a R$ 72,90. Com uma equipe de cinco pessoas, a marca diz ter faturado cerca de R$ 500 mil nos últimos 12 meses.
Diferentemente da escolha a dedo feita pelas sócias da Amora, a Box Magenta utiliza uma ferramenta de inteligência artificial para casar os gostos de cada cliente aos milhares de opções disponíveis no catálogo da empresa de cuidados pessoais e beleza.
De um lado, um formulário traz perguntas sobre características físicas, e gostos sobre cores e fragrâncias. Na outra ponta, uma equipe negocia com as marcas e cataloga no sistema os produtos.
"A partir daí, filtramos o que é adequado dentro do gosto do assinante", diz Diego Rocha, cofundador da marca, que é tocada por uma equipe de 15 pessoas.
As caixas contêm cinco produtos de marcas variadas -incluindo grandes como Natura e L'Occitane. Assim como a Lingebox e a Amora, o valor das assinaturas muda conforme a periodicidade (anual, semestral ou mensal) e vai de R$ 139,90 a R$ 159,90.
Criada em junho de 2019 em Campinas (SP), a Magenta tem hoje cerca de 10 mil clientes. Rocha diz que a grande maioria é de mulheres de 20 a 35 anos. Para ele, a principal vantagem do clube de assinatura como modelo de negócio é a garantia e previsibilidade de renda no fim do mês, o que permite investimentos.
"Também conseguimos nos adaptar mais facilmente a qualquer situação. Se houver algum atraso com um fornecedor, temos dezenas de outros para cobrir esse problema e não repassá-lo ao cliente."
Por outro lado, ao apostar em preços mais competitivos, os serviços veem cair sua margem de lucro. Por isso os três clubes têm como meta ganhar novos assinantes.
Segundo Maria Inês Dolci, advogada especializada em defesa do consumidor e colunista da Folha, quem pensa em aderir a um serviço deve antes fazer uma pesquisa sobre a empresa, verificando sua reputação, prazos de entrega e reclamações registradas.
Os clubes, por sua vez, devem ter atenção com os fornecedores, porque em caso de os produtos revendidos apresentarem dano, parte da responsabilidade recai sobre o intermediário. Ela também defende que os serviços invistam sempre em novidades.
LEIA MAIS
+Lidas