Cientistas de Stanford localizam ‘interruptor’ de desejo sexual dos homens e como manipulá-lo; entenda

Publicado em 13/08/2023, às 14h38
Foto: Reprodução/Freepik
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Por EL PAÍS

Um grupo de neurologistas da Universidade de Stanford afirma ter detectado o circuito cerebral exato que funciona como um "interruptor" da libido nos homens. No estudo com animais, publicado no periódico Cell, os pesquisadores descobriram o mecanismo ativado em camundongos machos desde o momento em que detectam a presença de uma fêmea até que o desejo sexual seja despertado.

Sabia-se onde esse circuito se localizava, no hipotálamo pré-óptico. Mas o experimento foi além e detectou a rota cerebral específica do desejo. E, de forma mais importante, ofereceu aos cientistas a capacidade de ligá-lo ou desligá-lo à vontade, como uma espécie de interruptor.

— (Se desligarmos) os machos simplesmente não acasalam, mesmo que reconheçam a fêmea. Do contrário, se ativarmos essas células, eles começarão a acasalar novamente, mesmo após a ejaculação — explica Nirao Shah, professor de Psiquiatria e Neurobiologia e principal autor do estudo.

Esse detalhe que Shah acrescenta é especialmente relevante. A maioria dos mamíferos machos entra, após a ejaculação, em uma janela de tempo em que não tem desejo sexual. Isso é conhecido como período refratário.

No caso dos camundongos, dura cerca de cinco dias. Mas quando esse circuito neural foi estimulado, ele praticamente desapareceu e durou apenas um segundo.

— É uma redução em mais de 400 mil — diz Shah: — O que nos diz que esses neurônios direcionam o impulso sexual de uma maneira muito poderosa.

Viagra para a mente

As descobertas da equipe de Stanford podem abrir a porta para a criação de drogas que funcionem como um interruptor de desejo masculino em humanos. Há razões para pensar que essa tradução seria possível.

— Esta parte do cérebro do camundongo tem um análogo anatômico em nosso cérebro. Então é muito provável que haja um conjunto semelhante de células nesta região do cérebro humano que regula o comportamento sexual masculino — diz o autor do estudo.

O cientista explica ainda que essa droga hipotética, para a qual ainda precisaria de anos de pesquisa, seria diferente do citrato de sildenafila, medicamento para disfunção erétil conhecido popularmente pelo nome de Viagra, como é comercializado pela Pfizer.

— Ele (o Viagra) age nos vasos sanguíneos do pênis e é assim que causa uma ereção, mas não parece afetar a libido em si — esclarece Shah. Já uma eventual droga neural não afetaria os mecanismos físicos de ereção, mas sim os cerebrais. Seria um Viagra para a mente, uma pílula capaz de atenuar o impulso sexual exacerbado ou potencializá-lo em quem o tem diminuído: um desejo encapsulado.

Além disso, uma das vantagens de ter afinado tanto a rota do desejo masculino é que eles conseguiram garantir que sua ativação não tenha efeitos colaterais.

— Na maioria dos experimentos anteriores, se eles regulavam o comportamento sexual masculino, acabavam afetando também a agressividade. Mas as células cerebrais que identificamos neste estudo não (fazem isso) — continua.

O estudo também identificou outro s mecanismos do prazer sexual, complementa Shah. — Sabemos que o ato de acasalar deve ser recompensador para os camundongos, pois eles o praticam repetidamente, mesmo quando expostos ao perigo. E acreditamos que no estudo identificamos pelo menos um desses mecanismos — afirma o neurobiólogo.

Esse circuito de células cerebrais aciona um sistema de recompensa que faz com que os camundongos queiram repetir. — Sempre se pensou que havia um centro de prazer para o sexo em algum lugar do cérebro. Mas definir ou caracterizar essas células tem sido muito difícil — explica o especialista.

Durante o experimento, os camundongos tiveram a chance de ligar o circuito neural do sexo à vontade: ao ir para uma área específica da gaiola, ele era ativado automaticamente. Quando os camundongos perceberam isso, eles voltaram para aquele local várias vezes.

— Até 200 vezes em poucos minutos — detalha Shah.

Essas descobertas abrem as portas para uma melhor compreensão dos mecanismos do prazer sexual masculino. Mas é apenas um primeiro passo em uma investigação mais ampla. O grupo de Shah está tentando descobrir o circuito equivalente nas mulheres, o que ele reconhece pode levar alguns anos.

Além de possíveis aplicações farmacológicas, essas descobertas podem ajudar a entender melhor as diferenças inatas entre homens e mulheres e as forças que impulsionam a sexualidade humana.

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