Medalha de ouro nos 10.000 metros do atletismo em 2016, na Olimpíada do Rio, a etíope Almaz Ayana toma um comprimido antes de iniciar o treino. Quatro horas mais tarde, o fisiologista aproxima um monitor da sua barriga, e os números na tela começam a mudar.
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Os dados finais mostram quais foram as temperaturas internas do corpo da corredora durante a atividade.
A pílula engolida pela recordista mundial da prova é computadorizada. Chama-se E-Celsius e tem dentro dela um sensor de temperatura e um chip de memória acoplados a um componente plástico que não causa danos ao sistema biológico.
Em condições normais, a temperatura do corpo deve ficar em torno de 37°C. O que vai além disso vira suor. Em condições extremas, porém, ou se o organismo não funcionar como deve, o calor pode subir e, em casos mais graves, levar à morte.
A onda de calor no meio do ano passado no Japão causou a morte de 116 pessoas. De julho a agosto, quando será disputada a Olimpíada de Tóquio neste ano, as temperaturas máximas devem variar de 30°C a 33°C. Essa perspectiva fez com que comitês nacionais, como os de França, Estados Unidos, Holanda, Austrália e Alemanha, começassem a testar o dispositivo.
"A pílula muda a maneira como nós entendemos a resposta do corpo ao aquecimento. Conseguimos muitas informações que antes não estavam disponíveis. É algo muito louco", disse o canadense Evan Dunfee, quarto colocado na marcha atlética em 2016, em entrevista ao site CBC.
Criada pela empresa francesa BodyCap, o recurso passou a ser usado no atletismo no ano passado, durante o Mundial de Atletismo no Qatar.
O kit necessário é composto pela pílula, que pode ser consumida apenas uma vez e dura cerca de 20 dias, o monitor para coletar as informações e um software. Cada comprimido custa US$ 70 (cerca de R$ 280).
No ciclismo, a tecnologia já havia se tornado conhecida em 2016, quando cerca de 150 atletas o utilizaram no Mundial de Doha.
"É um sistema para entender o corpo de cada atleta e propor um protocolo específico para cada um no processo de aclimatação. Alguns podem precisar de duas semanas, outros de mais tempo. A regulação térmica é um dos processos mais importantes para os atletas que competem em temperaturas moderadas ou quentes", afirma à reportagem o CEO da BodyCap, Sébastian Moussay.
Os dados são transmitidos da pílula para o monitor por meio de tecnologia bluetooth, a mesma que está nos telefones celulares. Mesmo que o atleta esteja longe do monitor, a memória da pílula armazena os dados para que eles possam ser coletados depois.
A equipe canadense acredita que possa melhorar o processo de recuperação do organismo dos atletas entre as provas.
"Temos todos os dados para isso porque sabemos como o corpo reage a cada 30 segundos. Também podemos controlar o processo de jet lag após longas viagens para competições", diz Trent Stellingwerff, cientista do esporte que trabalha com o Comitê Olímpico do Canadá.
Ele acredita que a tecnologia pode ser ainda mais importante para os atletas paraolímpicos que tiverem lesões na medula. Essas inibem a capacidade de o organismo produzir suor. Sem isso, o corpo não libera o calor e aumenta a sua temperatura.
A Olimpíada de Tóquio acontecerá de 24 de julho a 9 de agosto deste ano. A Paraolimpíada será de 25 de agosto a 6 de setembro.
"Há várias inovações criadas para o esporte que se tornaram instrumentos do nosso cotidiano. Os relógios que podem ser conectados, por exemplo, foram feitos para os esportistas acompanharem os batimentos cardíacos. Hoje são usados no nosso dia a dia", afirma Moussay, esperando que o mesmo aconteça com a pílula computadorizada.
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