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Produtividade a qualquer custo: o uso abusivo de remédios psicoestimulantes que viraram 'trend'

Ana Carla Vieira | 06/09/24 - 17h54
Freepik

“A gente pode dizer que a nossa sociedade está adoecida. Muita exaustão, época acelerada, as pessoas querendo resultados imediatos”. A fala é da psicóloga, pós-graduada em psicologia clínica e saúde mental, e professora universitária, Janaína Diniz. Ela entra sobre o assunto para explicar sobre o “fenômeno” de tomar muitos medicamentos, seja para não sofrer “algumas dores”, ou seja para “aumento da produtividade”. 

Uma das drogas “em alta” é o Venvanse, um remédio estimulante do sistema nervoso central, usado para aumentar a atenção e diminuir a impulsividade e a hiperatividade em pacientes com TDAH.

O problema é que jovens e adultos têm usado o remédio indiscriminadamente para “alta performance”. Quem faz o alerta é a médica psiquiatra Jordana Farias. “Eu tenho atendido pacientes que estão fazendo uso do Venvanse sem indicação para isso. São adolescentes que começam a fazer uso para o Enem, pessoas que usam de forma errada para fins de concurso público. Para concurso público o pessoal se automedica muito. E pessoas que têm usado em raves para ficarem mais ‘ligadas’”, revela a médica. 

Mas, apesar de ter se tornado popular por proporcionar um “hiperfoco”, o medicamento traz uma série de riscos. Um deles é a dependência química, já que trata-se da droga anfetamina, comum, por exemplo, no Rebite, muito utilizada pelos motoristas que precisam dirigir por horas seguidas e no Ecstasy.

“Se eu estou tomando uma medicação psicoestimulante pra melhorar minha função executiva, eu estimulo uma cabeça que não tem TDAH e vou ter consequências por estar fazendo aquilo em excesso, porque meu corpo não tem nenhum tipo de deficiência de disfunção executiva para eu estar estimulando”, alerta a psiquiatra.  

“É uma medicação que tem anfetamina no princípio ativo, e corre-se o risco altíssimo de dependência. Então, se eu não tenho TDAH, eu estou colocando no corpo um princípio ativo com anfetamina, então há o risco de dependência, alteração do sono, alteração de apetite, intoxicação e alteração de outros transtornos psiquiátricos que podem aparecer com uso de psicoestimulantes se você não tem TDAH, como por exemplo TOC [Transtorno Obssessivo Compulsivo] e bipolaridade. Então é preciso ter cuidado”, enfatiza Jordana Farias. 

Além dos problemas de saúde, o uso desenfreado das substâncias estão gerando uma outra questão, que é a falta do medicamento para quem, de fato, necessita. “As pessoas veem colegas produzindo, postando nas redes sociais, se dando bem com cursos, e pensam ‘porque eu não?’ Então vão buscar um remédio, sem diagnóstico. Pessoas, inclusive, diagnosticadas com TDAH estão com dificuldade de exercer seu tratamento absoluto porque já existe falta dos remédios em farmácias, já que outras pessoas estão em busca desses medicamentos de forma indiscriminada. Isso é muito sério!”, comentou a psicóloga Janaína Diniz, em entrevista ao Videocast Saúde em Foco

Alguns dos efeitos colaterais do Venvanse são, ainda: 

  • Hipertensão

  • Arritmia

  • Ataque Cardíaco

  • Depressão

“A diferença do remédio para o veneno é a dose. Não é porque o remédio é ‘bonitinho’ que o mundo todo vai sair tomando. Há muito efeito colateral que pode virar outro problema”, finaliza a médica Jordana Farias. 

O tema "Saúde Mental” esteve em pauta no terceiro episódio do Videocast “Saúde em Foco”, um projeto do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM)  em parceria com o Centro Universitário Cesmac e o Laboratório Proclínico. Assista aqui ao Episódio 03.