Maceió

Entre dores e superação: mãe de filhos autistas abre espaços para negócios de famílias atípicas

Ana Carla Vieira | 02/06/24 - 14h17
Fotos: Itawi Albuquerque/ Ilustração: TNH1

A história que vamos contar revela capítulos que poderiam estar resumidos à dor e ao sofrimento. Mas a protagonista do enredo encontrou forças para superar, um a um, todos os episódios que precisou enfrentar até tornar-se a grande impulsionadora de outras famílias.

Luana Rodrigues, 43 anos. Bacharela em Direito, confeiteira. Mãe solo. Cinco filhos. Quatro diagnosticados com autismo, uma com TDAH. Sofreu abusos na infância, violência doméstica, e a perda de parte da visão. O que nunca perdeu, foi a vontade de transformar. Transformar a vida dos filhos. Transformar a realidade de tantos outros que passam pelo que ela já passou.    

Agora, o maior sonho dela é ver crescer o projeto que fundou em Alagoas, das “Famílias Atípicas Empreendedoras”.

“Meu maior sonho é que toda mãe atípica tenha espaço no mercado de trabalho com o empreendedorismo. Que seja vista, que seja validada também as suas emoções, a sua limitação em relação à carga horária e que as pessoas contribuam com o trabalho delas. E esse espaço não pode ser igual ao de uma família ‘típica’. Tem que ser de forma inclusiva, porque as mães atípicas já tem um custo muito grande, de uma maneira totalmente diferenciada de uma família tradicional comum, no sentido de que ela cuida de uma pessoa com deficiência e, no mais, não tem como estar fora de casa, não tem como ser ‘celetista’. Até as que sejam concursadas, não têm como cumprir aquela carga horária porque há uma demanda tão alta de terapias de um filho PCD que não tenha outro parente que possa ir”, ressalta Luana.

Formada em Direito, as referências para Luana começar a empreender vieram da mãe, que sempre procurou se ocupar com pequenas vendas, e da avó paterna, que era boleira de mão cheia. Mas não são só as boas lembranças que permeiam as ligações familiares dela. Há aí um capítulo de dor. 

Foto: Itawi Albuquerque/TNH1

Na infância, Luana foi agredida e abusada pelo próprio pai. “Precisei lutar e superar isso desde os 11 ou 12 anos de idade até a fase adulta. Havia violência sexual, violência física e ele tentou até me matar uma vez. Vivenciar essa situação e superá-la trouxe também outros nortes pra mim, porque houve o tempo do silêncio e depois houve o tempo da denúncia. Quando eu fiz a denúncia, eu sabia que a família ia ruir, ia se dividir e aconteceu. Tem pessoas da minha família que não falam mais comigo porque meu pai foi preso, claro, e respondeu a três processos, que juntando as penas deram 76 anos de prisão”.

Dois anos após o início do processo contra o pai, a mãe de Luana faleceu e ela ficou só. Aliás, da mãe, ela lembra sempre com muito carinho. Em 1984, foi diagnosticada com esquizofrenia e bipolaridade, sofreu maus tratos, preconceitos, internações forçadas e situações humilhantes. “Hoje, no meu coração, eu penso que minha mãe certamente era autista, uma mulher ritualística, extremamente apegada àquela organização e fazia isso de uma forma metódica, com rigidez comportamental”, diz Luana, ao enfatizar a dificuldade e a evolução dos diagnósticos hoje. 

OS DIAGNÓSTICOS

Essa herança genética pode ter sido determinante para o diagnóstico dos filhos de Luana. Ela vivia a maternidade em plenitude. Teve quatro filhos meninos e uma menina. Mas foi com a chegada de Benício, o quarto filho, que ela começou a perceber algo diferente. “Ele era tão quietinho, no canto dele, não interagia. Quando a mãe chega em casa, geralmente a criança pula, né? Ele não. Ele também tinha comportamentos ou de muito choro e grito, ou de gargalhadas sem parar. E quando eu desabafava eu ouvia: ‘não, você quer que os filhos sejam iguais, os dedos das mãos são diferentes, mas coração de mãe não se engana”. 

Aos 3 anos de idade, Benício foi iniciado na terapia, após ter sido levado a uma médica neuropediatra. Tinha autismo. Nessa época, Luana já havia se separado do ex-marido, pai das crianças, após 12 anos de casamento. “Eu vivenciei novamente um ciclo triste de violência, que foi o fim do meu casamento. Eu sofri agressão, eu precisei de medida protetiva, mas aí eu já sabia buscar ajuda, já sabia o ‘caminho das pedras’. E depois de vivenciar tudo o que eu vivenciei eu não podia aguentar tudo de novo e nem ver meus filhos passando aquilo, de ver a mãe sofrendo. Eu tinha que me salvar e salvá-los. Foi o que eu fiz”, relembra.       

A partir de então, Luana passou a cuidar praticamente sozinha dos cinco filhos. 

Nas idas às terapias de Benício, Luana precisava levar Matheus, o caçula, que ainda era um bebê, com menos de 2 anos de idade. “E aí o pessoal lá falava: ‘mãezinha, você não acha que o Matheus já deu o tempo de falar? E na minha cabeça, eu pensava: ‘ele não é autista’. Eu vivia nessa negação. Mas ele estava, de fato, com atrasos na fala. Eu tinha a responsabilidade de iniciar as terapias, já com suspeita de que ele era autista também. Sete meses depois o laudo dele estava fechado e eu já não tinha mais dúvidas”, relata Luana.

Ela emociona-se ao falar da sensação que teve diante daquela situação. Veja o vídeo: 


Foto: Itawi Albuquerque/TNH1

O terceiro diagnóstico foi o de Cauã, o filho mais velho. No ano seguinte ao diagnóstico dos irmãos, ele começou a apresentar uma forte depressão, o que acendeu um alerta para Luana. “Meu filho tem altas habilidades, ele demorou a falar, mas sempre foi tão intelectual na vida escolar que eu não percebi nada. Só tinha uma coisa que eu notava: ele era tímido. E aí, ele começou a ficar sem comer, parecia forçar o vômito e não tinha vontade de sair da cama. Eu vivenciei a depressão, sabia que aquilo era um quadro depressivo. A psiquiatra o consultou, sem me cobrar nada, e quando terminou a conversa com ele, ela me chamou e disse: ‘é sim um quadro depressivo. Mas não só tem depressão aqui’. Aquilo me doeu, mas eu já estava preparada de certa forma. Ela disse: ‘ele tem sinais clássicos de autismo, talvez até mais do que os pequenos. Ela até tentou me tranquilizar, mas eu já estava sem chão, abriu todo aquele buraco de novo, eu queria de novo ir chorar no banheiro, eu queria sair dali, deixar eles tudinho ali com ela e correr. Mas eu não podia fazer isso! Me bateu o desespero. Eu só queria um colo”, desabafa. 

Helena é a única menina entre os filhos e até então não tinha apresentado sinais de autismo. Mas apresentou uma dislexia e teve o laudo de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Recentemente, surgiu a suspeita que também tenha um grau de autismo, mas o diagnóstico ainda não foi fechado.  

COMO ASSIM, CINCO FILHOS ATÍPICOS? 

Com quatro filhos atípicos, diagnosticados, Luana já estava totalmente engajada na causa. Procurava por informações e inscrevia-se em todos os cursos e palestras que eram possíveis sobre a temática do autismo e afins. Como ela diz, “engolia conteúdo”. 

Em uma dessas palestras, Davi, de 12 anos, o segundo filho mais velho, se identificou com os sinais que estavam sendo apontados. “Eu estava com todos os meus filhos e o Davi estava atento à palestra e bateu no meu ombro e disse: ‘mãe, eu acho que eu sou autista’. Eu disse: ‘não, meu filho. Não é não!’. E ele foi citando as coisas que faz e a palestrante havia citado. Então ele mesmo, antes de mim, se viu diferente. Aí eu corri pra médica e pedi para ela examinar o Davi. Ela pediu uma avaliação neuropsicológica e eu pedi um empréstimo no banco porque eu pensei: ‘dessa vez não dá tempo de vender 10 bolos, nem fazer rifa ou pedir socorro a alguém. Eu preciso salvar esse filho também’. Depois de oito meses e de passar por todos os testes padrão ouro, o diagnóstico foi fechado”, diz Luana. 


Foto: Itawi Albuquerque/TNH1

"Toda a sociedade está se adaptando ao aumento dos diagnósticos. Mas esse aumento é simplesmente a evolução da ciência, em si. Em que enquadramento ficava essa criança? Esquizofrenia, retardo mental. Então as pessoas que têm até uma fala negativa: ‘ah, tudo agora é autismo’, não tem noção do que está falando”. Veja o desabafo de Luana: 

A fala de Luana é comprovada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos. Do ano 2000 para 2020 houve um salto muito grande no registro do número de casos de autismo em crianças. Mesmo não sendo dados brasileiros, o Brasil utiliza os estudos do CDC como base, pois não há em nosso país pesquisas concretas sobre a prevalência da condição. 

Ilustração: TNH1

A MÃE EMPREENDEDORA

A paixão pela confeitaria foi despertada cedo. A menina, do interior da Bahia, ia passar as férias em Pernambuco, na casa da avó paterna, que fazia bolo “todo dia, para todo mundo”. Luana conta que amava ajudar a avó e, do terraço onde brincava, sentia o cheirinho do bolo assado. Daí nasceu o nome da confeitaria que tem hoje: “Terraço dos Bolos” @terracodosbolos.

Foto: Reprodução/Instagram

A veia empreendedora veio da mãe, que vendia trufas. “Eu queria ajudá-la, porque com as trufas ela ganhava tão pouco. Então resolvi que ia fazer lanches para ela vender. Eu estudava Direito e disse a ela que usasse o lucro para pagar as contas. Eu estava grávida do meu primeiro filho e a gente começou a botar a ideia no papel. Na semana seguinte, a minha mãe morreu”.

Luana ficou sozinha em meio à ideia do negócio. “Então 5h, 6h da manhã eu estava ali fazendo bolo, sanduíche, tudo que eu tinha planejado com a minha mãe, até pra sair da dor e do luto. E assim fiz todo o enxoval do meu filho. Foi a minha primeira etapa de empreendedorismo”. 

Depois, em 2010, ela procurou por profissionalização e recorreu a um curso no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

Os bolos, ela fazia dentro de casa, nas madrugadas, quando as crianças iam dormir. Luana lembra que deitava com os filhos e cochilava até 1h ou 2h da manhã, hora em que levantava para preparar todas as etapas das encomendas e ficava acordada todo o restante do dia. “Bolo é preparar a massa, assar, preparar o recheio, esperar esfriar, montar, deixar estruturar e decorar. Muitas etapas. E era a minha madrugada inteira até ficar pronto”, conta a confeiteira.

Mas uma notificação, no ano passado fez essa rotina mudar. A empreendedora foi notificada pelo condomínio onde mora, no bairro do Pinheiro, em Maceió, após a reclamação de um morador, e desde então não pode mais fazer os bolos dentro do apartamento de dois quartos. Sem saber o que fazer, e para não perder o sonho do negócio, Luana resolveu fazer um apelo e um desabafo nas redes sociais. “Eu sou inquilina, moro de aluguel porque ainda não tenho condição de ter a minha casa própria. Eu fiz um desabafo nas redes sociais, mas regras são regras. Houve uma comoção linda e eu ganhei uma vaquinha online que deu para alugar o espaço de uma sala comercial ao lado do prédio onde moro. Deu para reformar e comprar alguns equipamentos”, conta. 

“Eu faço bolo por encomendas e não posso pagar um funcionário. Eu tenho uma salinha para fazer os bolos, mas isso não mudou a rotina com meus filhos. Eu quero empreender, eu quero crescer com a minha marca, que nasceu do amor pela minha avó, que me ensinou a fazer bolos, e eu quero isso pros meus filhos!”, sonha. 

Hoje a empreendedora também dá aulas de confeitaria para mulheres em situação de vulnerabilidade, em uma ONG, fechando mais uma rede de apoio, com a experiência de quem já viveu a violência na própria pele. “Já dei aulas para vítimas de violência doméstica que precisavam ir escoltadas, porque muitas tinham medidas protetivas e ali foi uma sensação muito forte porque eu vivenciei aquilo no passado e estava ali para ajudar aquelas mulheres a terem um trabalho, uma renda. E eu faço com muito amor”. 

LÁGRIMAS NO FEIJÃO

Em meio à rotina com a confeitaria, as aulas, o trabalho comissionado no Tribunal de Justiça e a rotina com as crianças e como dona de casa, Luana precisou enfrentar outra grande barreira. “Em um sábado, eu estava fazendo um bolo e não estava enxergando nada direito. Sempre usei óculos, desde criança, mas não tinha sentido nada parecido. Minhas duas retinas descolaram. Fui a uma médica de emergência e tive que passar por um procedimento a laser e fiz uma cirurgia. O olho direito foi salvo, o esquerdo não. Dois anos depois, tive catarata no olho esquerdo, que não tinha sido salvo e fiquei monocular”.

Com a nova condição, Luana estava PCD (Pessoa Com Deficiência) visual. “A cirurgia era urgente, mas eu estava sem plano de saúde e sabia que pelo SUS ia demorar. Eu já tinha perdido 50% da visão. Foi quando uma amiga pegou uma foto minha e uma fala e abriu uma vaquinha. No mesmo dia, à noite, ela já estava com o valor todo para a cirurgia, vindo do carinho das pessoas. Então eu fiz a cirurgia e passei 80 dias sem poder fazer os bolos. Eu emagreci muito e tinha muita dor no olho. Depois isso gerou um catarata e no ano seguinte, glaucoma. E eu não tive tempo nem de chorar por isso. Uma lembrança  dolorosa para mim é que no início de todo esse processo eu estava catando feijão e eu via tudo duplicado. Aquilo me gerou uma angústia que eu comecei a chorar”.


Foto: Itawi Albuquerque/TNH1
NASCE O PROJETO DE FAMÍLIAS ATÍPICAS EMPREENDEDORAS

“Eu sou uma mulher, eu sou PCD visual, eu trabalho, eu preciso sustentá-los”. Luana não se vitimizou e nem deixou de se inquietar, mesmo estando diante de tantos desafios. A empatia que ela estava buscando, recebendo e conquistando, procurou oferecer também. 

“Hoje, o Brasil já tem mais de 11 milhões de mães solo. Eu sou uma delas. É por isso que eu sonho tanto que essas mães não vivam nesse estigma de ter tão pouco ou de sofrer tanto ou de não ter rede de apoio. Eu sonho muito alto por essas mães, por isso que hoje existe um projeto específico para essas mães ou famílias empreendedoras, para que tenham esse espaço mais inclusivo”. 


Foto: Divulgação

O projeto a que se refere é o das Famílias Atípicas Empreendedoras, idealizado há um ano. Em uma audiência pública, Luana teve o insight: precisava reunir as famílias que têm filhos atípicos e que enxergam no empreendedorismo um meio de sobrevivência. Falou com uma mãe aqui, outra ali, e abriu um grupo de whatsapp. Quando menos esperava, o grupo estava com 223 participantes, de todas as partes do estado de Alagoas, de outros estados e até de fora do país. 

No mês de maio deste ano, a primeira grande conquista: a realização da I Feira das Famílias Atípicas Empreendedoras, onde 40 expositores, integrantes do grupo, puderam comercializar o que produzem, desde alimentos a roupas, calçados, brinquedos, artesanato e pintura.

“No projeto, a gente já teve que acolher mães que estavam à beira de um suicídio, mães que não tinham mais vontade de empreender, muitos casos que não tem alternativa, é a mãe para tudo porque a criança não se adapta a mais ninguém. Hoje, elas estão outras! É lindo de ver. Como não sonhar com isso?” 

O grupo já participou também de exposições em órgãos como a sede da OAB, Tribunal Regional do Trabalho e Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas e está caminhando para tornar-se Associação.  

Uma das integrantes do Projeto é Marta Cristina Nascimento, da @mc_brigaderia. Ela tem dois filhos atípicos, o Luís Miguel, de 15 anos, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), e a Marina Moura, de 8 anos, que é PCD visual e foi diagnosticada com TDAH. 

Marta é empreendedora há 12 anos, mas há 4 está no ramo da confeitaria. “Com o nascimento do meu primeiro filho, e aos seus 10 meses com um diagnóstico precoce de TEA, percebi que a volta ao mercado de trabalho formal seria algo bem distante pois era mãe solo e teria que me dividir entre os cuidados de bebê, terapias, médicos e rotinas diárias. Sendo assim, tive que me reinventar. Fiz parte de vários segmentos de porta a porta até chegar a descoberta e minha paixão pela confeitaria, que hoje complementa nossa renda familiar”, conta a empreendedora.


Fotos: Arquivo Pessoal
Sebrae Delas: O CAMINHO DA PROFISSIONALIZAÇÃO

Para profissionalizar seu próprio negócio e o dos demais integrantes do projeto, Luana Rodrigues buscou o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que existe para fomentar o empreendedorismo no Brasil auxiliando as pequenas empresas e microempreendedores individuais. 

“A ideia é sempre mostrar para essa mulher, enquanto empreendedora, quais as vantagens que ela tem de estar se formalizando. Muitas, como é o caso da Luana, não têm o CNPJ porque não pode perder o benefício dos filhos. Mas a gente também trabalha com essa empreendedora a questão dela conseguir  sustentar a sua família, a partir da renda que ela gera com o seu CNPJ para não ficar só nessa dependência do benefício, e com as vantagens do empreendedor de estar totalmente coberto em casos de acidente, por exemplo”, enfatiza Erica Pereira, coordenadora do programa “Sebrae Delas” em Alagoas.

O programa consegue atender mulheres empreendedoras, mesmo que ainda não sejam formalizadas, nem estejam associadas ou cooperadas. “A gente proporciona capacitações, com palestras, cursos, oficinas, e a gente consegue atender tanto quem já tem um CNPJ como quem está com um negócio mas ainda não está formalizado”, explica a coordenadora. 

O Sebrae Delas proporciona às empreendedoras uma visão de gestão do negócio, de precificação do serviço e como gerir e separar as contas de casa com as contas do negócio. 


Foto: Arquivo Pessoal

A Associação ainda não conta com uma sede física, esse é mais um dos sonhos que Luana pretende realizar. “Essa é uma etapa que eu sonho, e que vai acontecer! Eu sonho também em levar esse projeto para todos os municípios de Alagoas, para Brasília, eu queria que ele virasse algo a nível nacional, que todo estado tenha essa rede de apoio”, entusiasma-se. 

EMPREENDER CURA TUDO

Luana Rodrigues mudou todo o contexto da própria vida. Por várias vezes. Quando olha pra trás, por todo o caminho que já percorreu e superou, sabe que a dor não define mais quem ela é. Cheia de sonhos, como sempre foi, ela quer ver o projeto das famílias atípicas empreendedoras ganhando o Brasil inteiro. E com palavras encorajadoras, faz um balanço da sua própria história e ressalta o que o empreendedorismo simboliza na vida dela.

“Houve um tempo em que a dor era muito forte, mas ela não me define. O diagnóstico não define a minha personalidade, não diz quem eu sou. Empreender cura tudo. E eu não tô falando do financeiro. Cura dores emocionais porque você não empreende só, você se conecta ao cliente, o cliente indica outro, você conhece outros empreendedores, você conhece uma rede… Eu sentia carência da rede, hoje sou essa rede”. 

Luana emociona-se e sabe que o amor pelos filhos foi o principal combustível que a fez seguir em frente. Mas é olhando para frente que ela suspira em sonhos cada vez mais altos. 

“Se não fossem todas as necessidades que eles têm, que são imensas, eu talvez não tivesse buscado tantos espaços, e nesses espaços a abertura que hoje eu tenho. Eu sei que em algum momento alguém pode me ouvir e criar a coragem de pedir ajuda. Pode ser uma mãe atípica, pode ser uma mulher que esteja sofrendo violência, e olhe e diga: ‘se ela conseguiu, eu vou conseguir’. Então eu só queria ser a voz para alguém que precise se libertar”.

Luana e seus cinco filhos na salinha alugada ao lado do prédio, onde hoje faz os bolos por encomenda
Luana e seus cinco filhos na salinha alugada ao lado do prédio, onde hoje faz os bolos por encomenda (Foto: Itawi Albuquerque)
A confeiteira sonha em ver o negócio crescendo e fundou o Projeto de Famílias Atípicas Empreendedoras
A confeiteira sonha em ver o negócio crescendo e fundou o Projeto de Famílias Atípicas Empreendedoras (Foto: Itawi Albuquerque)
A família de Luana Rodrigues reunida na sala do apartamento onde moram
A família de Luana Rodrigues reunida na sala do apartamento onde moram (Foto: Itawi Albuquerque)

O filho mais velho, Cauã Rodrigues, de 16 anos, reconhece a força dessa mãe e tenta descrever em palavras toda a gratidão por ela ser quem é, em uma declaração emocionante. Assista: 

"Hoje eu me sinto uma mulher livre, uma mulher realizada, alguém que realmente saiu daquele encaixe de dor, de limitação do diagnóstico e sem a coragem de empreender. 

Eu superei essa parte. Agora vamos para a etapa de unirmos, de empreender com outras pessoas, de ajudar as que têm menos possibilidades de estar nesses espaços inclusivos”.