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Entre a tristeza e a depressão: qual a diferença e quando buscar ajuda?

Ana Carla Vieira | 05/09/24 - 12h26
Foto: Freepik

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS),o Brasil é o país mais depressivo da América Latina. De acordo com uma pesquisa divulgada em outubro de 2023, 5,8% dos brasileiros, ou 11,7 milhões de pessoas, têm depressão no país. 

As mulheres apresentam duas vezes mais chances de desenvolverem a doença do que os homens. E esse número pode ser ainda maior, já que muita gente ainda resiste em procurar ajuda profissional. 

Mas é preciso também entender e diferenciar a depressão de outros quadros de saúde ou de momentos difíceis da vida. De acordo com a psicóloga, pós-graduada em psicologia clínica e saúde mental, e professora universitária, Janaína Diniz, depressão é uma condição mental, diferente daquela tristeza que acontece no dia a dia. “Essa tristeza todos nós estamos sujeitos a sermos acometidos, ou também aquela sensação de impotência. Mas a depressão se configura com a frequência e a intensidade dos sintomas. Há um Manual Internacional de Diagnóstico, onde há os critérios, e é onde a gente vai buscar avaliar se a pessoa já está nesse quadro, nesse estado depressivo”, explica a especialista. 

Segundo ela, alguns sintomas são comuns à depressão: 

  • Irritabilidade profunda
  • Tristeza profunda
  • Choro frequente
  • Fadiga
  • Falta de energia
  • Desesperança
  • Falta de prazer nas atividades cotidianas
  • Isolamento social
  • Desesperança no futuro
  • Falta de projetos de vida
  • Pensamentos suicidas

“Todos esses critérios a gente precisa avaliar para que a gente possa diagnosticar como um transtorno mental. Porque as nossas emoções, como tristeza, raiva, vergonha são inerentes ao ser humano e todos nós vamos vivenciar esses sentimentos ao longo da nossa vida. Mas o que a gente precisa observar é quando esses sintomas estão exacerbados e, principalmente, quando eles estão fazendo com que a gente não funcione mais socialmente, profissionalmente ou academicamente”, diz Janaína Diniz. 

A empresária no ramo de moda, Rosi Barros, começou a apresentar os sintomas e diz que demorou a procurar ajuda, pensando ser somente uma fase ou cobranças pelo estilo de vida. Mas ela foi diagnosticada com depressão, passou por tratamento medicamentoso e com terapias e compartilha sua experiência. “Eu demorei um pouco para entender que estava em depressão porque associava a meu estado de vida. Associar ser mãe, mulher e empresária é uma grande jornada. Então eu achava que estava daquele jeito por causa do meu estilo de vida. Mas foi quando começaram a acontecer alguns episódios que fugiam da normalidade. Eu tinha crises de ansiedade. A primeira eu estava dormindo, acordei passando mal, com o coração acelerado, pensei que ia morrer. Depois comecei a chorar, chorar, como se não houvesse amanhã. Os pensamentos ficavam um pouco confusos também. Eu demorei a buscar ajuda, porque sempre achava que era só uma fase e que ia passar”, compartilhou Rosi.

Eu sempre fui uma mulher de sonhar, de ter objetivos, e eu comecei a descobrir que não estava sendo a mesma, estava perdendo esses objetivos e deixando meus sonhos de lado”, conta a empresária.


A empresária Rosi Barros, a psicóloga Janaína Diniz e a apresentadora Beatriz Lacerda na gravação do Videocast Saúde Em Foco

Ela conta que foi bem acompanhada por psicóloga e psiquiatra, e que além das terapias foi indicado o uso de medicamentos, o que ela temeu, pois não queria ficar dependente de medicação para o resto da vida. Felizmente, o tratamento foi feito da maneira correta e hoje ela já não precisa mais dos remédios. “Eu estava tão mal que eu pensei: ‘Deus, perdi minha saúde mental’. Então naquele primeiro momento eu achava que ia ter que tomar remédio pelo resto da vida. Mas isso não aconteceu. Hoje eu brinco que só tomo água para dormir”, relembra a empresária.   

Rosi conta ainda que a atividade física foi fundamental também no processo de tratamento contra a depressão. “Eu ia para a academia e comecei a buscar atividades de alto impacto, como crossfit e boxe. Pra mim era uma sensação de estar viva, eu saía outra dali. E o médico me falou que realmente tinha ligação direta, com a questão dos hormônios, dos neurotransmissores”, compartilhou. 

Problema na tireoide ou depressão? 

A especialista em psicologia clínica e saúde mental, Janaína Diniz, chama a atenção também para o fato do “autodiagnóstico” e “automedicação”, e diz que é preciso uma entrevista clínica e uma anamnese muito detalhadas, porque há casos de outros problemas de saúde que acarretam em quadros semelhantes aos da depressão, mas que são tratadas de outra forma, com outras medicações inclusive, para que o quadro não seja agravado. 

“Já chegaram ao consultório pacientes trazendo todos os sintomas de depressão e quando eu perguntei como estavam as taxas, pedi para fazer um check-up, quando foi ao médico e trouxe os resultados, era um quadro de tireoide e a gente poderia diagnosticar erroneamente e essa pessoa ser inclusive tratada como uma depressão, encaminhada para um psiquiatra, o psiquiatra passar medicamento e ela fazer todo um percurso de tratamento equivocado. Isso poderia gerar agravamento da doença ou surgimento de outras doenças. Então é muito importante que a gente tenha esse acompanhamento médico, esse olhar clínico, essa escuta apurada, para não cair nessa ‘armadilha’”, enfatizou a profissional.

"Saúde Mental” é o tema do terceiro episódio do Videocast “Saúde em Foco”, um projeto do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM)  em parceria com o Centro Universitário Cesmac e o Laboratório Proclínico.  

O videocast é comandado pela apresentadora Beatriz Lacerda e exibido no YouTube da TV PajuçaraAssista aqui ao Episódio 03.