Contudo, nem todos sabem que é possível entender melhor esses números por meio de uma fórmula matemática, que te permite calcular seu gasto calórico diário, considerando variáveis pessoais.
A fórmula de Harris-Benedict foi criada em 1919 e é usada para estimar quantas calorias uma pessoa gasta em repouso. Ou seja, seu resultado indica a quantidade de energia gasta pelo corpo para manter suas funções vitais, considerando variáveis como idade, gênero e peso.
Apesar de ser uma estimativa matemática, os especialistas consideram que é, até hoje, a melhor maneira de fazer esse cálculo.
Existe uma fórmula para homens e outra para mulheres, e nesse cálculo os especialistas recomendam considerar o sexo biológico.
- Feminino: 655 + (9,6 x Peso em quilogramas) + (1,9 x Altura em centímetros) - (4,7 x Idade)
- Masculino: 66 + (13,8 x Peso em quilogramas) + (5,0 x Altura em centímetros) - (6,8 x Idade)
Então, para emagrecer basta fazer esse cálculo e se esforçar para consumir menos calorias do que o resultado da conta?
Segundo o nutricionista Dennys Cintra, coordenador do Laboratório de Nutrigenômica da Unicamp (Universidade de Campinas) e consultor pela Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), não é bem assim.
"Esse resultado é a energia mínima necessária para cobrir as nossas atividades de sobrevivência. Não pode ter atividade física nenhuma envolvida nisso", indica a especialista.
Nesse caso, a atividade física não se aplica apenas a exercícios na academia e outras atividades esportivas, mas também a gastos moderados, como a caminhada até o trabalho e atividades domésticas.
Para estimar o gasto energético diário real, é preciso ajustar o resultado da taxa metabólica basal ao perfil de cada um, considerando o nível de atividade. Mesmo para sedentários, o resultado da fórmula precisa ser ajustado.
Utilizar o produto do cálculo de Harris Benedict sem o ajuste de atividade para formular uma dieta, provavelmente vai acabar estimando um consumo calórico diário muito baixo, que pode trazer malefícios a longo prazo.
Hoje em dia, porém, grande parte das calculadoras de taxa metabólica disponíveis na internet já disponibilizam esse ajuste, que é calculado por uma conta de multiplicação. Nesses casos, basta selecionar o nível de atividade física que se aplica à sua rotina.
Cintra pontua que esse fator de ajuste considera também doenças e condições que afetam o metabolismo. "Quando você sofre uma fratura, por exemplo, isso faz o seu gasto energético aumentar, pois o corpo vai direcionar energia para reparar o osso. Tudo isso precisa ser considerado pelo especialista para formular uma dieta adequada."
O nutricionista indica ainda que nem sempre o resultado da fórmula, mesmo com o ajuste matemático, reflete o gasto energético real.
Alguns fatores, como uso de drogas de redução de apetite, anfetamínicos, adesão prolongada a dietas altamente restritivas e uso de anabolizantes, por exemplo, podem alterar a queima de calorias pelo organismo por tempo indeterminado.
"A fórmula vai funcionar para quem nunca teve contato com nenhuma dessas coisas. Caso contrário, o resultado pode não refletir o que está acontecendo no corpo daquela pessoa de verdade", afirma Cintra.
O procedimento considerado padrão-ouro para esse cálculo real é a calorimetria indireta ou respirometria.
Nesse exame, calcula-se a quantidade real de energia que aquele organismo gasta em repouso ao medir quanto oxigênio é inspirado e quanto gás carbônico é exalado. Porém, esse é um procedimento caro e disponível em poucas instituições no Brasil. Por isso, a fórmula segue como a maneira mais prática e acessível de fazer essa estimativa.
Para o presidente da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo), Felipe Duarte, é interessante que esse cálculo esteja disponível de maneira ampla para a população.
"É positivo que a pessoa possa fazer esse cálculo em casa e ter noção do seu gasto. Porém, ao tentar montar uma dieta sem acompanhamento profissional, é muito possível que haja um desbalanceamento de nutrientes", aponta.
Para formular uma dieta, pensando em emagrecimento ou ganho de peso, é sempre recomendado o acompanhamento de um nutricionista.
"Não é só cortar alimentos, tem que haver um balanço para que haja perda de peso sem risco de desnutrição", reforça Duarte.