A Operação Lava Jato foi a maior ação conjunta envolvendo Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal contra a corrupção enraizada no Brasil, envolvendo políticos e empresários.
Dezenas foram presos, bilhões de reais foram devolvidos aos cofres público por confissão mediante delação premiada e, ao final, tudo deu em nada: a Lava Jato foi desmontada e os presos foram soltos – inclusive o “descondenado” presidente Lula, novamente ocupando o Palácio do Planalto.
Só falta os réus pedirem de volta o dinheiro confessadamente desviados dos cofres públicos.
O assunto é abordado pelo jornalista Mário Sabino:
“A imprensa se deu conta, finalmente, do grande mal ao país causado pela destruição do legado da Lava Jato. E, agora, reage com editoriais críticos a quem vem destruindo. É pouco.
Sentenças de condenação de corruptos anuladas, multas bilionárias de acordos de leniência suspensas, empreiteiras sujas de volta a obras públicas, Lei das Estatais praticamente revogada, foro privilegiado estendido, ex-juiz e procuradores da operação perseguidos politicamente – tudo isso parece ter pegado de surpresa os jornais tradicionais.
Não dá para entender esse espanto com o cardápio previsível como bife com fritas em boteco de esquina. O establishment político, jurídico e empresarial sempre esteve pronto a reagir com força à ameaça representada pela Lava Jato. Ele só precisava de uma brecha.
A brecha foram as mensagens roubadas do celular de Deltan Dallagnol e alegremente divulgadas pelos mesmos jornais que hoje se indignam com o desmantelamento da operação que se propunha a limpar o Brasil. Mensagens que, embora produto de gatunagem digital, acabaram usadas como provas em processos.
A imprensa lavou o produto de roubo, e lavou com exclamações de ultraje. Como se houvesse alguém na face da Terra que pudesse resistir a grampos ou roubos de mensagens privadas. Ninguém resiste, senhores, e é por isso que existe sigilo telefônico e de correspondência. O sigilo é uma homenagem que a lei presta à fraqueza da alma humana.
A verdade crua e cozida é que, a despeito dos diálogos de Deltan Dallagnol e demais integrantes da Lava Jato, todas as culpas foram provadas e corretamente atribuídas tanto no Brasil como no exterior. Ninguém teve negado o direito à defesa e os processos passaram pelas instâncias devidas, inclusive o próprio STF.
A imprensa deixou-se levar pela excitação de divulgar conversas privadas e, no embalo, promoveu uma caça às bruxas escandalosa, como se os criminosos fossem o juiz e os procuradores, não os ladrões que dilapidaram a Petrobras e arredores.
Os editoriais críticos de hoje lamentam o que vem ocorrendo com a herança da Lava Jato, mas ainda abrem apostos para dizer que a operação errou. Deveriam é dar o braço a torcer e reconhecer que fizeram o jogo dos corruptos e corruptores que haviam sido punidos exemplarmente, bem como dos que ainda poderiam sê-lo.”