Terapia com outras mães ajuda na depressão pós-parto, diz estudo

Publicado em 10/10/2023, às 23h10
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Folhapress

Mães que tiveram depressão pós-parto podem ser as melhores terapeutas para novas mães que também enfrentam o transtorno, segundo pesquisadores da Universidade McMaster, no Canadá.

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Um ensaio clínico com quase 200 mulheres, realizado ao longo de um ano e meio durante a pandemia da Covid-19, aponta que mães que receberam tratamentos de seus pares (outras mães) tiveram 11 vezes mais chances de experimentar melhora do seu transtorno depressivo. Os resultados foram publicados no Acta Psychiatrica Scandinavica, em setembro.

A depressão pós-parto afeta uma em cada cinco mães de recém-nascidos no mundo, mas apenas 10% recebem cuidados baseados em evidências. No Brasil, ela afeta uma em cada quatro mães, segundo dados da Fiocruz.

"Tem uma discussão sobre como não temos recursos humanos para tratar todas as mulheres e pessoas com depressão. Então tem surgido muitas iniciativas que ajudam a dar maior escalabilidade [atender mais gente, com menos recurso, sem prejuízo na qualidade] para o tratamento", diz o psiquiatra Daniel Fatori, pesquisador do serviço de psiquiatria da infância e adolescência da USP (Universidade de São Paulo).

Segundo o médico, é uma vantagem que as mulheres conversem com alguém que vivenciou a sua situação -não só a depressão, como também a maternidade. "A gente fez um ensaio clínico durante a pandemia sobre depressão materna em que chamamos só psicólogas mulheres e que entendiam esse contexto. Percebemos que as mulheres se sentem mais confortáveis", diz.

Fatori é um dos idealizadores do aplicativo Motherly, uma outra forma de ampliar o atendimento às mães em depressão pós-parto. O aplicativo, disponível para download em lojas da Apple, oferece conteúdos que ensinam às mulheres técnicas usadas na psicoterapia. Em estudo recente, ainda em fase final antes da publicação, os pesquisadores da USP perceberam uma maior resposta às tarefas diárias entre as mães que usaram a ferramenta.

Alguns dos sintomas da depressão pós-parto, diz a psicóloga da família Manuela Moura, podem ser tristeza intensa, choro, dificuldade de se vincular ao recém-nascido, culpa, insônia, aumento ou perda de apetite. "Às vezes, vem acompanhado não exatamente de profunda tristeza, mas de um sentimento muito grande de irritabilidade, de estar indisponível afetivamente."

Na pesquisa conduzida no Canadá, algumas mães foram sorteadas para receber nove semanas de terapia cognitivo-comportamental (TCC) em grupo feita online por pares que já haviam experimentado a depressão pós-parto e se recuperado desde então, e outras, para receber o tratamento usual.

O estudo aponta que as participantes do grupo de TCC liderado por pares manifestaram melhorias clinicamente significativas na depressão pós-parto e na ansiedade, além de um melhor suporte social, menos ansiedade em relação à criança e melhorias no temperamento do bebê. Essas mudanças persistiram até cinco meses após o início do tratamento.

"Como alguém que se recuperou, se eu tivesse esse apoio há nove anos, talvez não tivesse tido depressão pós-parto com meu segundo filho. Eu teria tido recursos e a oportunidade de tentar antecipar isso, se pudesse", diz Lee-Anne Mosselman-Clarke, que foi uma das facilitadoras pares.

"Acredito que o programa permite uma abertura para falar e ouvir as experiências dos outros, o que elimina uma grande parte da vergonha e culpa em torno do sofrimento com a depressão pós-parto e ansiedade", afirma.

Pesquisas recentes de Van Lieshout mostraram que a terapia em grupo para depressão pós-parto entregue por enfermeiras de saúde pública com pouco ou nenhum treinamento psiquiátrico anterior levou a melhorias clinicamente significativas na depressão.

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