Alex Sabino / Folhapress
O ano era 2021 e o empresário norte-americano de origem cubana Jorge Más falava do sonho de contratar Lionel Messi, 35, para o seu time, o Inter Miami.
LEIA TAMBÉM
Não parecia muito possível. O atacante havia acabado de trocar o Barcelona, clube onde cresceu e se tornou profissional, pelos petrodólares do Paris Saint-Germain e seu fracassado (até agora) projeto de dominação do futebol europeu.
Nos treinos da seleção argentina na Universidade do Qatar, antes do Mundial do ano passado, pessoas próximas ao estafe de Messi diziam o quanto ele estava encantado com Miami depois de passar férias na cidade em julho. Lembraram ouvi-lo mencionar o desejo de morar lá no futuro. Este futuro chegou.
Nesta quarta-feira, o Inter Miami sinalizou, com um vídeo, a contratação do campeão do mundo.
"Tomei a decisão que vou a Miami. Se não fosse para Barcelona, queria sair da Europa, sair do foco e pensar mais na minha família", disse ele em entrevista ao diário espanhol Mundo Deportivo.
Ao acabar seu contrato com o PSG, no mês passado, o atleta teve a possibilidade de escolher seu destino. Percebeu ser complicado retornar à Espanha por causa da questão financeira, e rejeitou uma oferta de US$ 400 milhões (R$ 1,9 bilhão) por ano do Al-Hilal, da Arábia Saudita.
Ele aceitou proposta da equipe com a terceira pior campanha nesta temporada da Major League Soccer, o campeonato profissional dos Estados Unidos. O Inter Miami tem 15 pontos conquistados após 16 partidas.
Messi gostou tanto de seus dias na Flórida que comprou uma casa na região. Falou sobre como seria bom criar seus filhos em um ambiente de sol, praia e com menos pressão em campo, bem diferente do que vive há 18 anos no futebol europeu. Mas a transferência para a MLS era algo que estava na cabeça dele pelo menos há três anos.
"Sempre tive o sonho de ter essa experiência de viver nos Estados Unidos, ver o que é esta liga e como é a vida lá. Se acontecer ou não, depois gostaria de viver em Barcelona", disse, em entrevista de 2020.
O Inter Miami, franquia que tem como sócio o ex-jogador David Beckham, não possui força financeira por si só para contatar o jogador sete vezes eleito melhor do mundo e craque dos Mundiais de 2014 e 2022. Principalmente comparado ao Al-Hilal.
Lionel e seu pai, Jorge, aceitaram o pacote da MLS que não se resume ao salário pago pelo time. Há o envolvimento da própria liga e de seus patrocinadores. Para usar uma palavra surrada do futebol, Messi nos Estados Unidos é um projeto. Algo que vai além dos US$ 40 milhões anuais de vencimentos (R$ 196 milhões hoje em dia).
Pelo acordo proposto, terá direito a um bônus de novos assinantes do pacote de jogos da MLS vendidos pela Apple, que pagou US$ 2,5 bilhões (R$ 12,2 bilhões pela cotação atual) pelos direitos de transmissão do torneio pelo prazo de dez anos. O serviço de streaming anunciou, na semana passada, a produção de documentário sobre a trajetória do argentino em Copas do Mundo.
Messi também terá uma porcentagem da arrecadação da venda de camisas. A Adidas, que já é sua patrocinadora, fabrica todos os uniformes da MLS, com quem tem acordo desde 1996. O camisa 10 pode receber a prioridade de ser acionista do próprio Inter no futuro.
Pela segunda vez, o sonho dourado dele voltar ao Barcelona não aconteceu. Era a sua prioridade. Messi ainda mantém a mansão na qual morou até 2021. Seus três filhos foram alfabetizados também em catalão. A crise de choro ao fazer pronunciamento para comunicar a saída de Barcelona é uma das imagens icônicas de sua carreira.
"É muito difícil. Existem muitas questões pendentes", afirmou nesta semana Jorge Messi, sobre as conversas com o Barcelona.
O clube, ainda com os problemas financeiros que impulsionaram a saída do camisa 10, tentou montar um pacote para viabilizar a volta. LaLiga até autorizou plano de recuperação financeira da agremiação, o que possibilitaria fazer uma oferta a Lionel, apesar do pouco dinheiro disponível. Mas não havia sequer como igualar a proposta do Inter Miami, quanto mais a do Al-Hilal.
Os sauditas, no meio de um projeto de nacionalização para posterior privatização de suas principais equipes, contavam em contratar o astro com quem têm contrato para ser embaixador do projeto para ser sede do Mundial de 2030. Planos foram feitos de como seria a apresentação do maior acordo da história do futebol. Seria quase o dobro dos US$ 220 milhões (R$ 1 bilhão) anuais pagos pelo Al Nassr a Cristiano Ronaldo. O plano acabou frustrado.
Lionel Messi não é a primeira tentativa milionária de mudar o patamar do futebol dos Estados Unidos. É algo que começou com Pelé em 1975, passou por David Beckham e Zlatan Ibrahumovic neste século.
O sonho americano para os jogadores no passado sempre foi a possibilidade de ganhar muito dinheiro e poder sair à rua anônimo. O futebol está longe de ser o esporte mais popular no país. Diego Maradona, antes de ter a América como alvo preferencial para ataques, falou do desejo de morar lá nos anos 1980.
Ele era um astro nos Argentinos Juniors e contou, em sua biografia, que a vendedora de uma loja na Philadelphia lhe perguntou a sua profissão.
Isso não deverá acontecer com Lionel Messi. Quase 26 milhões de norte-americanos viram pela TV a final da Copa do Mundo do Qatar e sabem perfeitamente que um dos maiores jogadores da história deverá atual na liga norte-americana.
LEIA MAIS