Drauzio Varella/UOL
Embora haja outro medicamento contendo semaglutida à venda no Brasil, o Ozempic ganhou os holofotes no mundo todo como um tratamento revolucionário para tratar a obesidade. Na verdade, a droga foi inicialmente indicada para tratar diabetes tipo 2. Como um de seus efeitos foi a perda de peso, logo começou a ser usada por pacientes que queriam emagrecer.
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As vendas do medicamento movimentaram mais de 6 bilhões de dólares no mundo todo até agosto de 2022. No Brasil, de acordo com a Associação de Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), o Ozempic foi o remédio mais vendido em 2021, quando a semaglutida ainda nem havia sido aprovada para tratar a obesidade pela Anvisa. As hashtags envolvendo o nome do produto movimentam todas as redes sociais, que acumulam milhões de postagens acerca do medicamento, envolvendo celebridades e anônimos.
Embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha autorizado, em janeiro deste ano, o uso de outro medicamento semelhante, cujo princípio ativo também é a semaglutida, para o tratamento da obesidade, o Ozempic ainda não foi aprovado para esse fim. O medicamento é recomendado pela Agência apenas para tratar o diabetes tipo 2.
De acordo com a dra. Tassiane Alvarenga, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), estudos já mostraram que a semaglutida é segura para uso prolongado, podendo, inclusive, ser utilizada de modo contínuo, desde que com acompanhamento médico. “Além de proporcionar perda de peso, os pacientes que usam o medicamento apresentam melhora dos parâmetros metabólicos, como diminuição da pressão arterial, da glicemia, dos triglicérides, entre outros. Além disso, a semaglutida ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, sem causar efeitos colaterais psiquiátricos”, avalia a médica.
“Rosto de Ozempic”, um dos efeitos colaterais do Ozempic
A medicação, quando usada com indicação e supervisão médica, costuma ser bem tolerada. Os efeitos colaterais do Ozempic mais comuns são sintomas gástricos, como diarreia, náuseas e vômitos, constipação, refluxo, gases e sensação de saciedade. No entanto, esses efeitos tendem a passar com o uso.
A semaglutida é indicada para tratar diabetes tipo 2 (ela não deve ser utilizada para tratar diabetes tipo 1) e pessoas com IMC maior que 30 ou com IMC igual ou maior que 27 que tenham ao menos uma comorbidade, ou seja, uma doença como hipertensão, diabetes, problema cardiovascular, entre outras, associada.
O principal problema apontado pelos médicos em relação ao Ozempic é a forma como muitas pessoas têm utilizado o medicamento. Mesmo que na teoria seja exigida a receita médica para a venda, muitos adquirem o remédio sem indicação médica, e passam a usá-lo sem acompanhamento. “Muitos fazem a progressão da dose de forma errada, o que pode causar enjoos, vômitos, desidratação e perda de massa muscular. Isso quando ele não é usado por pessoas que não são obesas e querem perder 3 ou 4 quilos”, explica a dra. Tassiane.
Além disso, ainda segundo a médica, as pessoas que utilizam a semaglutida sem acompanhamento e sem mudar hábitos podem recuperar o peso perdido quando param o uso. “A pessoa que emagreceu só com o Ozempic, sem acompanhamento médico e nutricional, pode voltar a engordar”, afirma.
Muitas pessoas que tomam a medicação sem orientação médica, apesar da exigência de receita para a venda do produto, têm relatado efeitos bastante desagradáveis.
"ROSTO DE OZEMPIC" - Um deles ficou conhecido como “Ozempic face”, “rosto de Ozempic”, em tradução livre, caracterizado por um rosto com aspecto flácido. Isso ocorre não por causa do medicamento, mas devido à perda de peso rápida. “Em geral, é fruto de uma perda de peso rápida e acentuada, em que a pessoa perde a gordura do rosto e, às vezes, até a musculatura da face”, explica a dra. Tassiane.
Logo abaixo da pele do rosto há uma camada de gordura denominada coxim adiposo que dá sustentação às estruturas da face. Com a perda de peso, além da redução do coxim, pode ocorrer perda de colágeno e elastina, o que deixa a pele mais flácida e com propensão a rugas. Para melhorar o aspecto do rosto de quem perde muito peso com rapidez há procedimentos estéticos, incluindo cirurgias, mas em geral eles são caros.
Quem utiliza a medicação sem orientação pode acabar tomando uma dose elevada de semaglutida e perder peso com muita rapidez, além de sofrer efeitos colaterais mais sérios. “Tomei o remédio por conta própria e um mês e meio depois, comecei a vomitar e ter muita diarreia. Um dia acordei com dor nas costas, na altura dos rins, e muito vômito. Fui para o hospital e estava desidratada”, conta a publicitária Giovanna*, de 30 anos.
Dietas muito restritivas, induzidas ou não por medicamentos, podem causar perda de massa muscular e outros problemas de saúde, além de ser difícil segui-las, o que acaba desestimulando os pacientes. A dra. Tassiane reforça a necessidade do acompanhamento de médico e nutricionista, para que o paciente mude hábitos e perca peso sem colocar a saúde em risco. “Não existe uma caneta mágica que conserte um estilo de vida ruim”, finaliza.
*A entrevistada pediu para não revelar sua identidade
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