Remédio inédito é esperança para tratamento de depressão pós-parto

Publicado em 16/08/2023, às 12h50
Foto: Reprodução/Freepik -

Revista Marie Claire

A luta contra a depressão pós-parto ganhou um novo aliado nos Estados Unidos — e talvez um dia no Brasil. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de saúde no país, aprovou o primeiro medicamento oral desenvolvido para essa doença que atinge de 10 a 20% das puérperas. O princípio ativo do fármaco é a zuranolona.

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“A depressão pós-parto é uma condição séria e potencialmente fatal em que as mulheres experimentam tristeza, culpa, inutilidade – até mesmo, em casos graves, pensamentos de ferir a si mesmas ou a seus filhos. E, como a depressão pós-parto pode interromper o vínculo mãe-bebê, também pode ter consequências para o desenvolvimento físico e emocional da criança”, disse Tiffany R. Farchione, diretora da FDA. “Ter acesso a uma medicação oral será uma opção benéfica para muitas dessas mulheres que lidam com sentimentos extremos e, às vezes, com risco de vida.”

O papel dos hormônios na depressão pós-parto

A depressão é uma doença multifatorial. Sua versão pós-parto sofre influência da redução abrupta dos hormônios sexuais depois que a pessoa dá à luz. “Essa queda leva a uma diminuição de neurotransmissores responsáveis pelo nosso bem-estar”, explica Larissa Elias Lanziani, psiquiatra do Einstein.

Enquanto a maioria das mães experimenta o que é conhecido como "baby blues" depois de ter o bebê — uma oscilação de humor temporária que tende a passar sozinha — uma parcela delas enfrenta o impacto profundo e duradouro da depressão pós-parto.

O novo remédio aprovado pela FDA é inovador por agir nas questões hormonais da gestação. “O funcionamento da zuranolona baseia-se na sua semelhança com a alopregnanolona, um neurohormônio derivado da progesterona que está associado ao bem-estar”, diz a médica do Einstein.

Facilidade, rapidez e poucos efeitos colaterais

O método de ação em si não é inédito. Em 2019, a agência americana aprovou o uso da brexanolona, outro remédio para depressão pós-parto que usa o mesmo princípio ativo da zuranolona.

A diferença está na forma de administração. Enquanto o fármaco mais recente é consumido pela via oral, o anterior precisa ser injetado na veia.

“No caso da brexanolona, a paciente fica internada durante 60 horas para receber uma infusão lenta da droga. A grande vantagem da zuranolona é ser uma medicação via oral que a paciente toma por duas semanas”, esclarece Larissa Elias Lanziani.

Outro benefício é a velocidade de sua resposta em comparação com os antidepressivos. Enquanto os psicotrópicos tradicionais levam de duas a seis semanas para mostrar efeito, os estudos mostram que a paciente que toma zuranolona pode começar a melhorar em poucos dias.

No que diz respeito aos efeitos colaterais, a médica observa que os relatos iniciais são leves e incluem sedação, tontura e dor de cabeça.

A zuranolona vai substituir os remédios atuais?

Segundo a psiquiatra e psicoterapeuta Thaís Muriel Marin, vinculada ao Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, a indicação primária da zuranolona são casos moderados a graves de depressão pós-parto.

“Vale a pena a gente olhar para essa medicação, mas ela é nova e o número de mulheres nessas pesquisas é baixo. A gente vai começar a ver os resultados agora que o remédio será consumido na prática”, diz Marin. “Seria mais um recurso para a gente usar, mas ainda não tem previsão para o fármaco chegar no Brasil e substituir terapias clássicas.”

A zuranolona ainda enfrenta desafios em relação à sua segurança. “Não se sabe se o remédio é seguro durante a gestação. Muitas vezes, a depressão puerperal já começa no terceiro trimestre da gravidez, afirma a médica da USP.

Já antidepressivos amplamente usados, como a sertralina ou a fluoxetina, podem ser utilizados com segurança durante esse período.

Segundo a psiquiatra, o fármaco tampouco é uma bala de prata para a doença: “Quando a gente pensa na depressão puerperal, tem a questão da privação de sono, dos cuidados com a criança, do afastamento do trabalho, das preocupações e da falta de rede de apoio também”.

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