Por um tratamento igualitário: “As instituições precisam enfrentar o gabinete do ódio do bem”

Publicado em 21/11/2023, às 17h51

Redação

“Gabinete do ódio” foi uma expressão criada por opositores de Jair Bolsonaro para se referir à divulgação, por parte de assessores do seu governo, de notícias falsas ou de procedência duvidosa.

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O governo mudou de mãos, está agora novamente sob o comando do Partido dos Trabalhadores, entretanto a prática palaciana continua a mesma, embora agora sob o silêncio de instituições e órgãos que deveriam se manifestar em favor da veracidade das informações oficiais, como revela a jornalista Madeleine Lackso:

No final de semana, vimos entrar em campo o gabinete do ódio do bem. Infelizmente, instituições e associações de defesa de jornalistas silenciaram de forma eloquente. Agora a situação é mais grave, já que os ataques são feitos por gente alçada ao patamar de combater fake news e defender liberdade de imprensa até na Unesco.

O modus operandi dos gabinetes do ódio é muito parecido. Diante de qualquer denúncia ou crítica vindas de jornalistas, montam um grupo para atacar o mensageiro. É utilizada a técnica de ‘separar a ovelha do rebanho’, mirando em um só e agindo de forma agressiva com quem tenta defender, para promover o isolamento.

O ataque precisa ser feito de forma coordenada, preferencialmente envolvendo perfis com muitos seguidores. Quando os seguidores estão muito energizados e violentos, perfis importantes farão alguma espécie de retratação, correção ou pedido de desculpas.

É algo muito eficiente, principalmente porque, tempos depois, os seguidores lembram do ataque, mas não da retratação. Ao mesmo tempo, suponha que os mais radicais entre eles resolvam partir para algum tipo de agressão ou loucura. O pedido de desculpas, em tese, blinda os influenciadores da acusação de cumplicidade.

O bolsonarismo agiu assim com a imprensa e humoristas. Hoje fingem defender liberdade de expressão. O lulismo condenava os ataques de bolsonaristas, inclusive do próprio presidente, à reputação de jornalistas. Hoje, lança mão do mesmo expediente.

O ataque à jornalista Andreza Matais, do Estadão, segue o mesmo padrão de outro feito há um mês e meio, em 5 de outubro. Nas duas ocasiões, ela não foi a autora das reportagens que incomodam o governo, é chefe da sucursal de Brasília.

Em vez de contestar os dados da reportagem ou responder a perguntas legítimas, as nossas autoridades resolveram investir contra a reputação da jornalista. Não é um método novo para o PT. O livro Assassinato de Reputações, de Romeu Tuma Jr. e Claudio Tognolli, mostra como se fazia isso antes mesmo da internet.

No ataque do mês passado, coincidentemente, a conta Gov.br da jornalista foi hackeada. Agora, o influencer Felipe Neto entrou em campo postando uma foto de Andreza Matais com o letreiro ‘dama das fake news’.

É uma referência à reportagem que revelou as reuniões oficiais da primeira-dama do Comando Vermelho de Manaus com o governo. Condenada por lavar dinheiro da facção e novamente investigada por isso, teve passagens pagas pelo contribuinte.

A hashtag #DamaDasFakeNews chegou aos trending topics e lá continuou mesmo depois do pedido de desculpas. Aliás, não foi bem um pedido de desculpas, foi um reforço do que havia sido dito mas fazendo a ressalva de que é errado atacar diretamente a jornalista.

Os ataques dos seguidores não pararam, a hashtag ofensiva não saiu dos trending topics e os políticos continuam na mesma campanha. Há, no entanto, muitas diferenças entre lulismo e bolsonarismo.

A primeira é que o lulismo foi eleito prometendo acabar com esses ataques antidemocráticos à imprensa. A outra é o tipo de reação. Há um silêncio eloquente, enfrentado por alguns poucos veículos de comunicação e jornalistas individualmente.

Influencers bolsonaristas que atacavam jornalistas sofreram toda sorte de retaliação, seja da imprensa ou das instituições. A atitude com os influencers lulistas tem sido radicalmente diferente. Um dos que atacam a imprensa chegou a ser ouvido na Unesco para falar de liberdade de imprensa. As instituições brasileiras e internacionais nos devem uma resposta.

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