Opinião: “Não são os partidos nem os candidatos que definem se uma eleição será polarizada – é o eleitor”

Publicado em 15/03/2024, às 17h16 - Atualizado às 19h36

Redação

Num país com tantos partidos políticos oficialmente registrados, normalmente a disputa eleitoral é polarizada entre dois candidatos, com raríssimas exceções para o surgimento da chamada terceira via.

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É uma situação que independe da vontade dos líderes partidários, pois na realidade quem decide sobre isso é o dono do voto, o eleitor.

Quem fala a respeito dessa questão é o jornalista Ricardo Noblat em texto veiculado no jornal “Metrópolis”:

“Você já ouviu um eleitor comum se queixar-se da polarização que vive o país – lulistas de um lado, bolsonaristas do outro? Fora os políticos que se sentem imprensados, e a mídia que não se sente representada por nenhum dos polos, nunca ouvi Sua Excelência, o Eleitor, queixar-se da polarização.

Talvez por ter sido a primeira pelo voto popular depois da ditadura, talvez pela quantidade de candidatos (21), a eleição presidencial de 1989 foi a única não polarizada. Fernando Collor abriu larga vantagem logo no início, e Lula e Leonel Brizola disputaram voto a voto o direito de enfrentá-lo.

As eleições seguintes foram todas polarizadas – de 1994 a 2014 pelo PT e PSDB, e as demais por Bolsonaro e o PT com Fernando Haddad como candidato, e agora com Lula. Quando o PSDB elegeu o presidente (1994 e 1988), ninguém reclamou de polarização, nem mesmo quando ele disputou e perdeu.

Não são os partidos nem os candidatos que definem se uma eleição será polarizada – é Sua Excelência, o Eleitor. E ele decide em quem vai voltar somente em cima da hora. É assim, principalmente, em países com partidos não enraizados, como o Brasil, em que ninguém lembra direito em quem votou.

A polarização não ocorre só na eleição presidencial, mas na de prefeito. Na maioria dos municípios, é o candidato do prefeito contra o da oposição; os demais são figurantes. Nas capitais, não em todas, a eleição se nacionaliza, mas isso não tira o peso do debate em torno dos temas locais.

É o que assistiremos outra vez este ano. Ai do candidato com chances de se eleger capaz de confiar de preferência na força do seu padrinho, o presidente ou o governador. É uma benção contar com o apoio de um deles, mas não basta. São as propostas para os problemas locais que importam.

As propostas, o carisma do candidato, sua capacidade de falar ao coração dos eleitores e o dinheiro que tenha para gastar na campanha. No início do século passado, um marqueteiro americano famoso disse a um candidato do Partido Republicano a presidente:

“Só há duas coisas que ganham eleição: dinheiro…, e a segunda esqueci”.

Exagero. Bolsonaro gastou o dinheiro que podia e que não podia para se reeleger. Não houve eleição mais comprada que a de 2022. E, no entanto, ele perdeu. Com os partidos entupidos de dinheiro do Fundo Eleitoral, não faltarão recursos para os candidatos a prefeito nas maiores cidades.

Reclamam da polarização os órfãos da chamada terceira via. Têm o direito de reclamar. Em São Paulo, são contra Guilherme Boulos (PSOL), apoiado por Lula, e Ricardo Nunes (MDB), apoiado por Bolsonaro. Mas se Tabata Amaral (PSB) não decolar, votarão em Nunes. Pode apostar.”

 

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