Redação
O empresário Joesley Batista, sócio da J&F, passou momentos difíceis quando se tornou alvo da Operação Lava Jato.
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Livrou-se graças a um acordo de leniência em que confessou a prática de 240 crimes, incluindo 124 casos de corrupção e 96 de lavagem de dinheiro.
Mas, como o mundo gira e a Lava Jato se tornou assunto do passado, ele e o irmão voltaram ao centro do poder no Brasil, a partir da contratação do ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski, como mostra a jornalista Madeleine Lackso:
“Joesley Batista faz seu retorno triunfal ao centro do poder depois de ter vivido um calvário durante a operação Lava Jato. Na semana passada, a festa de aniversário do pai dele, no interior de Goiás, causou um congestionamento de jatinhos em Brasília. Hoje é que ficamos sabendo das grandes vitórias na Justiça e nos negócios.
O empresário virou uma espécie de ícone da Lava Jato devido às gravações com sua voz. A mais famosa é aquela que ele próprio fez com o então presidente Michel Temer. A conversa com Aécio Neves também ganhou muita notoriedade.
Mas as conversas com desconhecidos do público, diretores da própria empresa e parceiros de negócios, também foram muito marcantes. O palavreado e a naturalidade com que falava de atos ilícitos chocaram. O ponto alto foram as conversas envolvendo aproximação sexual com o objetivo de pressionar depois.
Ele fechou um acordo de leniência bilionário em troca de não ser processado pelos crimes que confessou em conjunto com o irmão Wesley e diretores das empresas do grupo.
Foram delatados 1829 políticos e não só com depoimentos, havia fartura de documentos fornecidos à Procuradoria-Geral da República. Houve a confissão de 240 condutas criminosas de 8 tipos diferentes. Entre elas, 124 casos de corrupção e 96 de lavagem de dinheiro.
A estimativa da pena que encarariam sem o acordo variava. A mais rígida era entre 400 anos e 2 mil anos de prisão. A mais leve, que levava em conta a existência de crimes continuados, era entre 230 anos e 1,3 mil anos de prisão.
Em março o Brasil descobriu que Joesley estava de volta no jogo. Ele estava na comitiva oficial do presidente Lula na viagem à China. Tudo foi esquecido rápido e aqui não falo dos casos criminais em si. Alguém que gravou um presidente da República foi reinserido no circuito das comitivas oficiais da presidência.
Lula acabou não indo à viagem por problemas de saúde. Joesley foi tietado na China pelos demais integrantes da comitiva.
O empresário contratou o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski como consultor jurídico. Como mostrou Felipe Moura Brasil, ele atua para anular a venda de uma empresa. Em 2021, o ministro havia dado uma decisão que poupou do empresário o gasto de R$ 670 milhões.
O ministro do STF Dias Toffoli anulou a multa de R$ 10,bilhões que a J&F aceitou pagar em seu acordo de leniência com a CGU. Também estabeleceu que os termos do acordo podem ser revistos.
Ao mesmo tempo, a Revista Piauí revelou documentos que mostram a participação do empresário nas novas negociações de energia com a Venezuela. O acordo para abastecer o estado de Roraima existia desde 2001, no governo FHC. Foi interrompido por Bolsonaro em 2019 por razões técnicas, as interrupções constantes. Roraima chegou a ter diversos apagões de mais de 10 horas e se optou por outra fonte de energia.
Em maio, o governo Lula anunciou que o acordo seria refeito. Hoje soubemos que será intermediado por uma empresa privada, a Âmbar, da J&F. Ela fazia as negociações desde março, com conhecimento da presidência da República.
A substituição energética tinha dois argumentos técnicos: energia mais limpa e melhor preço. Os preços praticados agora pela Âmbar serão oito vezes mais altos que os praticados quando o serviço foi interrompido, em 2019.
As pesquisas mostram hoje que corrupção é uma das principais preocupações do brasileiro. O tema tinha ficado em suspenso durante as eleições. Lula virou o oposto de Jair Bolsonaro e o tema foi minimizado. A polarização entre as duas forças foi o motor das eleições.
A volta triunfante de Joesley é uma vitória temporária do petismo, que reafirma seu poder. Mas isso tem potencial para levantar novamente a indignação contra a corrupção.
O PT orquestra sua militância nas redes sociais, mas elas são dominadas pela direita. Os vídeos de Joesley vão ressurgir e será inevitável que se tente colar a imagem dele na de Lula. Sem o PT no poder, ele delata políticos e é punido. Com o PT no poder, as punições são anuladas e ele ganha contratos bilionários.
Joesley Batista é uma semente de vento que Lula está plantando. Ele pode vir a colher tempestade.
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