Opinião: “Então é Natal… O que temos hoje para mostrar às democracias do mundo?”

Publicado em 24/12/2023, às 10h17

Redação

O Brasil, 9a economia do mundo, tem uma participação significativa no contexto internacional.

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Mas continua a dever uma posição mais compatível com o seu protagonismo, como argumenta Catarina Rochamonte, no portal “O Antagonista”:

“Mais uma vez, o mundo está em guerra. Faz-se premente uma consciência política no sentido mais alto e mais nobre do termo. O impacto da guerra não se limita ao âmbito territorial no qual se dão os conflitos, mas espalha as suas consequências e reorganiza os centros de poder.

O progresso moral da humanidade parece questionável quando vemos as barbaridades perpetradas contra inocentes, os horrores do desenrolar das guerras, os crimes hediondos, os atentados insanos contra jovens e crianças em escolas, em universidades… inegavelmente encerramos um ano marcado pelo terror.

E isso não é apenas sintoma do que o mundo está vivenciando em seu aspecto coletivo, mas é também indicação de que os indivíduos estão perdidos, interiormente devastados e desajustados.

Não podemos aquilatar o real estrago da situação de guerra se atentarmos apenas para o seu aspecto exterior. Os sintomas de convulsão social remetem aos desajustes de determinados indivíduos e as massas, quando capturadas pela eloquência de indivíduos perturbados, servem ao caos e à destruição.

O presidente americano, Joe Biden, em discurso no qual reiterou o histórico apoio dos Estados Unidos a Israel, formulou a seguinte frase:

“O Hamas e Putin representam ameaças diferentes, mas têm algo em comum: ambos querem aniquilar completamente uma democracia vizinha”.

De que lado o Brasil, que se diz democrático, resolveu ficar diante dessas ameaças?

A pergunta é retórica. Sabemos quão evasiva foi a condenação do nosso país em relação ao Hamas e quão enfática e demagógica é a sua condenação a Israel. Também estamos bem informados, aqui em O Antagonista, dos insistentes afagos e acenos que Lula e sua assessoria especial fazem ao tirano russo.

Vale salientar que, se Jair Bolsonaro ainda estivesse no poder, nossa política externa também não estaria em boas mãos. Embora houvesse certamente um discurso de apoio a Israel, também acenaríamos para Vladimir Putin e para outros autocratas, desde que não fossem de esquerda.

O Brasil continua com seu atraso estrutural, principalmente no aspecto político. Há tempos estamos carentes de lideranças verdadeiras. Não as lideranças populistas supracitadas, que logram conduzir massas pela profusão de besteiras que vomitam sem critério e sem responsabilidade.

Uma liderança, às vezes, precisa apenas de um pouco de silêncio da multidão para que a sua voz sóbria possa ser ouvida. Nós, como cidadãos, como eleitores, precisamos dar menos palco aos histriônicos e ouvir mais aqueles que ponderam e agem com sensatez, trazendo um pouco de salubridade intelectual e moral a um ambiente tão cheio de sectarismo, proselitismo e demagogia.

Se preferimos os astutos, os caricatos ou os eloquentes em detrimento dos raros indivíduos corretos que entram na política com um desejo real de dar a sua contribuição à sociedade fazendo o que é necessário e justo, não temos muito direito de reclamar.

Se o Brasil está como está é porque optamos por uma política rasa, ineficiente e que retroalimenta a sede de poder dos corruptos.

Como podemos nos comprometer, como nação, com um discurso de paz se aqui dentro campeia o crime organizado, o tráfico de drogas, a violência urbana e o domínio das facções? Como ousamos falar de paz se estamos acenando para autocratas e para os países e organizações mais refratárias ao direito internacional e aos direitos humanos?

Em tese, o Brasil tem um papel importante no âmbito global. Mas, para fazer valer as suas prerrogativas, precisaria começar limpando o seu próprio quintal.

O que temos hoje para mostrar às democracias do mundo? Que tipo de político temos como exemplo? Somos apenas um país polarizado entre dois extremos ideológicos de um populismo rasteiro e obtuso.

Temos um Judiciário politizado e ministros da Suprema Corte que sucumbiram ao vírus do autoritarismo sem freios e da vaidade exacerbada; um Executivo que teve a chance de pacificar o país, mas insistiu na vingança, na perseguição política, nas práticas pouco republicanas e nas arengas ideológicas; um Legislativo subserviente aos caprichos dos donos do poder e satisfeito com os privilégios dos quais não quer abrir mão.

O Brasil, neste momento, não tem tamanho moral para se posicionar bem nas grandes questões internacionais. Ele está à margem do debate e assim deve continuar até que consigamos alcançar um nível mais elevado de consciência democrática e dignidade política.

Melhor ficar fora do jogo do que jogar ao lado do eixo do mal.”

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