Danielle Castro/Folhapress
Um estudo divulgado na Inglaterra apontou que a obesidade acelera a perda da imunidade promovida pela vacina contra Covid-19. Os pesquisadores sugerem que obesos em grau severo provavelmente precisam de doses de reforço mais frequentes que pessoas com peso normal para manterem-se protegidos contra a doença.
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Os ensaios clínicos apontaram também que os imunizantes contra o coronavírus continuam altamente eficazes na redução de sintomas, hospitalização e mortes, mesmo em obesos.
Os cientistas das universidades de Cambridge e Edimburgo avaliaram dados de 3,6 milhões de escoceses por meio da plataforma EAVE II (Avaliação precoce da pandemia e vigilância aprimorada do Covid-19, em português). Foram considerados adultos que receberam duas doses da vacina.
A pesquisa investigou a relação entre o IMC (índice de massa corporal), hospitalização e mortalidade por Covid-19. Os indivíduos com obesidade grave (IMC maior que 40) tiveram 76% mais chances de sofrer hospitalização ou morte pelo coronavírus mesmo estando vacinados, indicando uma perda mais rápida da proteção dos imunizantes.
O artigo foi publicado este mês na revista Nature e também trouxe dados de um estudo comparativo conduzido na Inglaterra com 28 indivíduos com obesidade grave e 41 participantes com IMC normal (18,5 a 24,9). Os pesquisadores analisaram os voluntários seis meses após a segunda dose da vacina e sua resposta a dose de reforço.
Os resultados foram significativos. Mesmo restaurada após a terceira dose, a imunização dos obesos foi perdida antes. Um semestre após a aplicação da vacina, já não era mais possível quantificar anticorpos neutralizantes em 55% dos que tinham obesidade severa, quadro que aconteceu em 12% dos de peso regular.
No período de ação do imunizante, o vírus também foi menos neutralizado pela vacina naqueles com IMC mais alto. "A capacidade de neutralização foi restaurada por uma terceira dose de vacina, mas novamente diminuiu mais rapidamente em pessoas com obesidade severa", afirmam os autores.
O trabalho não aponta o motivo da diferença, mas a descoberta levanta pontos importantes para a criação ou modificação de políticas públicas para o tratamento de obesidade e o combate à Covid-19. "Como a obesidade está associada ao aumento da hospitalização e mortalidade por infecções, nossas descobertas têm implicações para as políticas de priorização de vacinas", indicam os pesquisadores no artigo.
O trabalho também aponta que pessoas com obesidade (IMC 30 a 39,9) e baixo peso (índice abaixo de 18,5) podem ter o tempo de proteção da vacina reduzido.
"Este estudo enfatiza ainda mais que a obesidade altera a resposta à vacina e também afeta o risco de infecção. Precisamos urgentemente entender como restaurar a função imunológica e minimizar esses riscos à saúde", disse em nota Agatha van der Klaauw, do Wellcome-MRC Institute of Metabolic Science, uma das autoras do artigo.
Entre 14 de setembro de 2020 e 19 de março de 2022, período de análise dos pacientes, foram contabilizados 10.983 indivíduos com quadros graves de Covid-19. Destes, 9.733 foram hospitalizados, e 2.207 morreram em decorrência do vírus.
O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Imunizações), diz que a obesidade, especialmente o tipo mais grave, é reconhecida como fator de vulnerabilidade para diversas doenças infecciosas.
"O processo inflamatório gerado pela obesidade leva a uma alteração funcional do nosso sistema imunológico, o que faz dos obesos mais vítimas de várias doenças, como hepatites, pneumonia, gripe. E com a Covid não foi diferente, mostrando ser um grupo de risco", afirma Kfouri.
O sistema imunológico mais vulnerável também afeta a eficácia de algumas vacinas e, para o infectologista, o estudo do Reino Unido é importante por avaliar essa tendência na Covid-19. "Com hepatite B, com gripe, essa população de obesos responde pior à vacinação. A novidade é em relação a Covid, pois são os primeiros estudos com obesos e sobre duração de proteção [ao coronavírus]."
Para Kfouri, apesar dos resultados, o período entre as doses deve seguir o mesmo, priorizando imunossuprimidos (pacientes com câncer, HIV, transplantados e outros que estejam em tratamentos quimioterápico ou com drogas imunossupressoras).
"Então, por enquanto, não há nenhuma perspectiva de mudança do esquema vacinal de obesos nesse sentido", diz o médico.
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