“Gastar demais no cartão corporativo queima o filme de qualquer presidente da República”

Publicado em 20/09/2023, às 17h39 - Atualizado às 17h47

Redação

Texto de Madeleine Lacsko:

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A gastança desenfreada no cartão corporativo da presidência tem uma utilidade extra, o teste de fidelidade. É por meio das reações dos apoiadores, influencers e imprensa que Lula conseguirá medir até onde pode pisar na bola em diversos outros assuntos.

Gastar demais no cartão corporativo queima o filme de qualquer presidente da República. Agora, no entanto, temos tempero extra.

O primeiro é o discurso pobrista de Lula, que chegou a condenar família de classe média com dois televisores em casa. O segundo é a postura dos luloafetivos diante dos gastos de Jair Bolsonaro no mesmo cartão.

Em apenas sete meses, o presidente conseguiu gastar R$ 8 milhões no cartão corporativo. Jair Bolsonaro gastou R$ 5,3 milhões no mesmo período. Não é tarefa fácil.

Tem até reality show em que as pessoas precisam gastar determinada quantia. A gente imagina que é fácil, mas vai vendo ao longo da atração que as coisas são mais complicadas.

No Brasil, o presidente tem todas suas contas pagas. Não sai nada do bolso. Já estão pagas a moradia, alimentação, viagens, diárias, móveis extras, o que você imaginar. O cartão corporativo é só para  as despesas emergenciais que não são custeadas por nenhum contrato já vigente.

Que despesas seriam essas? Depois de 2019 ficou impossível saber. Houve uma decisão do STF dando ao presidente o direito de tornar secretas as que coloquem em risco a segurança nacional. Obviamente o próprio presidente é quem decide quais são essas despesas.

O PT passou os quatro anos do governo Bolsonaro fazendo escândalo por causa disso e foi acompanhado pela imprensa. Defenderam que o então presidente tivesse de revelar suas despesas, o que considero absolutamente correto.

Quando tomou posse, o governo Lula se meteu a divulgar uma lista de gastos de presidentes anteriores. Da boca para fora, prometia uma nova era de transparência. Os gastos divulgados, no final das contas, não batiam com o que estava no Portal da Transparência e todo mundo esqueceu essa história.

Chegou a hora de cobrar de Lula a promessa. Cadê a transparência? Ele resolveu repetir o discurso de Bolsonaro criticado durante quatro anos pelo PT e por ele próprio.

Aí é que chega a hora do teste de fidelidade. A imprensa quis manter um mínimo de dignidade e noticiou com fartura o recorde de gastos no cartão corporativo. Não basta.

A pergunta é: os editoriais indignados e programas de mesa redonda foram mais veementes, frequentes e indignados do que na era Bolsonaro? Se não foram, Lula tem a resposta ao seu teste de fidelidade. Pode fazer o que quiser em outras áreas e ainda se limpar nos capachos.

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