Os protetores solares atualmente disponíveis no mercado, embora indispensáveis para proteger a pele da exposição, não são suficientes para barrar todas as faixas de luz que provocam danos. É o que aponta um novo estudo conduzido por pesquisadores do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista científica Journal of Photochemistry & Photobiology, B: Biology.
No trabalho, os responsáveis mostram que as faixas de luz visível azul e violeta em um longo tempo de exposição podem causar danos nas células da pele semelhantes aos da radiação ultravioleta invisível (UVB e UVA). Porém, como os protetores não englobam as faixas visíveis, a proteção seria limitada.
“Nosso artigo mostra que o high energy blue, que chamamos aqui de violeta, deveria ser um dos alvos importantes para o desenvolvimento de protetores solares” afirma o professor do Instituto de Química (IQ-USP) Maurício Baptista, coordenador do estudo, em comunicado.
A luz visível compreende as faixas de comprimentos de onda de 400 a 750 nanômetros (nm). “O violeta é bem próximo de 400 nanômetros, que é a linha que separa o UVA do visível. Essa linha não tem uma razão específica para a pele. Ela tem uma razão para os nossos olhos, porque temos receptores que ‘enxergam’ o violeta e o azul, mas não ‘enxergam’ o UVA. Porém, em termos de comprimento de onda e de efeito biológico, essas faixas de radiação são muito parecidas entre si”, explica Baptista.
Os pesquisadores afirmam que pouca atenção é dada aos efeitos da luz visível na pele. Então, para investigar a fundo esses impactos, os cientistas utilizaram queratinócitos de pele humana imortalizados (HaCaT), células presentes na epiderme responsáveis pela produção de queratina, e os irradiaram com faixas de luz violeta (408 nm), azul (466/478 nm), verde (522 nm) e vermelha (650 nm).
“A LV (luz visível) representa aproximadamente 45% da irradiância solar total que atinge a pele humana (em comparação com aproximadamente 5% da radiação UV), sendo a faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres, ou seja, a LV sozinha induz 50% dos os radicais livres gerados na pele sob exposição solar”, escrevem os autores no estudo.
Eles observaram que as faixas violeta e a azul induziram a liberação de compostos oxidantes e produziram lesões no DNA dos queratinócitos de modo semelhante às consequentes da radiação UVA. Além disso, foi constatado um mau funcionamento de mitocôndrias e lisossomos, duas organelas importantes para a célula, e, como consequência, um acúmulo de lipofuscina, um composto que aumenta a sensibilidade das células à luz visível.
Em todos os experimentos, a luz violeta foi a mais tóxica, seguida pela azul e pela verde. Apenas a vermelha não causou danos significativos com a dose utilizada na pesquisa. “Isso acontece porque há mais fotossensibilizadores endógenos que absorvem no violeta do que no azul e no verde, e quase nenhum no vermelho. Esses fotossensibilizadores são a chave de tudo isso”, afirma Baptista.
Os fotossensibilizadores são moléculas que absorvem a energia da luz e a transforma em reatividade química. No caso dos raios UVB, por exemplo, o impacto é mais danoso porque “o próprio DNA é o fotossensibilizador da radiação”, diz o professor do IQ-USP. Já no caso da luz visível, a fotossensibilização é indireta.
Baptista ressalta, no entanto, que os achados não devem ser interpretados como se toda exposição à luz fosse danosa. Ele destaca que pegar sol é saudável, e que a luz tem efeitos positivos, como regeneração tecidual e alívio da dor e síntese de vitamina D. O problema é o excesso.