Redação
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Os diretores brasileiros Claudia Priscilla e Kiko Goifman já tinham tratado da questão dos transgêneros em Olhe para Mim de Novo, um road movie pelo Nordeste com Sillvyo Lucio em busca de um médico para fazer a cirurgia de alinhamento de gênero. Mas, depois de irem juntos a um show da cantora Linn da Quebrada, resolveram que fariam Bixa Travesty, que tem sua estreia mundial na seção Panorama do 68º Festival de Berlim.
“Fiquei muito encantada, porque é importante falar da transgeneridade no Brasil e no mundo”, diz Claudia Priscilla em entrevista a VEJA. “E Linn, além de tudo, é um paradigma nessa questão do corpo. É uma mulher, mas em nenhum momento pretende ter um corpo conhecido como feminino. Traz muito essa discussão desses novos corpos, que são os homens com vagina, as mulheres com pênis, e esse entendimento que entre esse binarismo do masculino e do feminino podem existir centenas de outros gêneros e outras identidades. Não dá mais para fingir que essas pessoas não existem. Elas colocam em xeque coisas que até hoje a gente via como naturais e normais: o que é homem, o que é mulher, o que é masculino, o que é feminino.”
Em vez de fazer um filme sobre Linn da Quebrada, que cresceu na periferia de São Paulo, os diretores decidiram fazer um longa com ela. “A Linn está em todo o processo criativo do filme, desde a concepção do roteiro, que extrapola a fronteira do que é documentário e do que é ficção, até a filmagem, quando ela propõe cenas incríveis que foram bem-vindas, e a montagem. É um filme coletivo.”
O longa alterna cenas domésticas, em que Linn discute com a mãe questões de gênero e pobreza, por exemplo, até um podcast em que interage com a câmera, fazendo seus discursos poderosos sobre machismo, racismo e sexualidade, e suas apresentações musicais ao lado da amiga Jup do Bairro. Em diversos momentos o assunto é o corpo, em comentários sobre sua indecisão de colocar silicone ou não, ou na discussão sobre suas fotos e vídeos explícitos, feitos no passado.
Seu único pedido a Priscilla e Goifman: que o filme tivesse afetividade. “A afetividade estaria dentro do processo, mas ela queria que também estivesse no filme. A Linn acompanhou todos os cortes e teve tanta voz ativa quanto eu e o Kiko. Quando chegamos ao último corte, perguntamos a ela: ‘E aí, Linn, tem afetividade?’ E foi nosso maior ganho, porque ela falou que sim.”
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