Redação
A precariedade do atendimento na rede pública hospitalar não é um “privilégio” do cidadão brasileiro.
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O problema se repete mundo afora.
É o que explica Pedro Valls Feu Rosa, desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, em artigo no portal “Diário do Poder”:
“Não faz muito tempo uma senhora de 81 anos morreu na Espanha, vítima de infarto, após aguardar 232 dias por uma consulta no serviço público de saúde. Na Bahia uma velhinha de 103 anos que mal conseguia respirar só conseguiu tratamento correto cinco dias depois, quando um jornal denunciou o caso. No Japão um senhor de 69 anos de idade sofreu um acidente de bicicleta e morreu após ter sido recusado em – acredite – 14 hospitais!
Estes três episódios, realçados sob o pano de fundo de milhões de pessoas abandonadas pelos fétidos corredores de alguns hospitais públicos pelo mundo afora, nos colocam a pensar no real empenho do Estado em proporcionar assistência médica digna ao povo.
A saída, por incrível que pareça, tem sido a caridade. Segundo a Organização Mundial de Saúde, inacreditáveis 40% dos tratamentos de saúde no mundo são proporcionados por organizações religiosas! Eis aí um número vergonhoso para os Estados, que, para piorar, no mais das vezes não ajudam e ainda atrapalham o trabalho voluntário de tantos abnegados.
Exemplifico com o caso da África, continente no qual a malária mata cerca de um milhão de seres humanos a cada ano, a maioria crianças. Estudos voluntários detectaram que apenas 2% das crianças dormiam protegidas por mosquiteiros adequados.
Seria de se esperar que, diante deste trabalho, os Estados – aqueles mesmos de tantos gastos supérfluos – distribuíssem os mosquiteiros, tão simples quanto baratos. Mas que nada! Somente às custas de doações, a maioria delas conseguida pela ONU, foi possível passar de 2% para 20% o número de crianças protegidas por mosquiteiros nos últimos seis anos. O resultado: 125 mil delas deixaram de morrer a cada ano. Seria exagero dizer que as outras 875 mil que ainda morrem a cada ano por falta de um mosquiteiro são assassinadas pelo Estado?
No Iraque, apesar do intenso trabalho voluntário de tantas organizações da sociedade civil, uma epidemia de cólera matou milhares de pessoas há alguns anos. Segundo apurou-se, o Estado estava purificando a água servida para a população com cloro vencido há anos, e comprado a troco de suborno. Enquanto isso, nas Filipinas, um aumento de 10% nas propinas cobradas de médicos reduziu a taxa de imunização infantil em mais de 20%.
Aliás, sobre este assunto, em 2006 a Transparência Internacional divulgou um estudo comprovando que a corrupção no setor de saúde em escala mundial chega a impressionantes 15% dos US$ 3 trilhões correspondentes aos gastos totais. No Brasil, segundo dados divulgados pela Controladoria-Geral da União em 2008, a corrupção, o desperdício e a má gestão desviam do dinheiro público investido na saúde R$ 426,4 milhões, o equivalente a 25,1% do R$ 1,69 bilhão repassado pelo Ministério da Saúde a 1.341 municípios.
Diante desta realidade só resta àqueles semelhantes nossos abandonados em um mundo de dor e tormento lembrar a famosa frase de Lothar Schmidt: ‘O que nos dá a Administração? A Administração nos dá o que pensar’.”
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