Escolas começam a adotar disciplina de cultura oceânica para ajudar proteção dos mares

Publicado em 15/07/2023, às 20h13
Foto: Freepik -

Folhapress

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), lançou dois editais para fomentar a cultura oceânica dentro das escolas de todo o país. O objetivo é aumentar a participação da comunidade na preservação dos oceanos, que é celebrado mundialmente nesta quinta-feira (8), por meio do desenvolvimento sustentável.

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A parceria entre o ministério e a universidade faz parte das ações promovidas pela ONU (Organização das Nações Unidas) por meio da Década dos Oceanos, mobilização com a participação de 193 países-membros, que visa ampliar a cooperação científica internacional e promover a integração entre ciência e políticas públicas sobre o tema.

"Nesse movimento todo da Década dos Oceanos, uma das metas da Unesco [braço da ONU para educação, ciência e cultura] é que a gente possa ter políticas públicas para o currículo escolar. O programa Escola Azul mobiliza, mas é uma vontade voluntária das escolas. O objetivo é que todos os países incluam em seus currículos a cultura oceânica", diz Ronaldo Christofoletti, professor do Departamento de Ciências do Mar do Instituto do Mar, da Unifesp, e coordenador do programa Maré de Ciência.

Atualmente o Brasil conta com dois estados —Paraíba e Ceará— e 11 municípios com leis de inclusão da cultura oceânica no currículo escolar. São eles Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ) Itarema (CE), Aracaú (CE), Camocim (CE), Caucaia (CE), Fortim (CE), Vila Velha (ES), João Pessoa (PB), Areia Branca (RN), e Maceió (AL).

O programa citado pelo professor Christofoletti teve origem em Portugal. Ele trabalha o tema oceano dentro do currículo escolar, incentivando ações e mudanças de comportamento em prol dos oceanos.

O primeiro edital é o Feira de Ciências — Escola Azul, voltado aos estudantes desde o ensino médio até o técnico. Qualquer escola, público ou privada, pode se inscrever para promover feiras de ciências locais, em outubro.

Todas as escolas podem se inscrever, mas só as públicas estarão concorrendo a R$ 280 mil em prêmios. Quinze escolas, três de cada região do país, serão premiadas com seis bolsas de estudo —uma para professor e cinco de desenvolvimento científico para estudantes.

"A gente tem outras 25 bolsas de educação científica júnior para estudantes que sejam autodeclarados pretos, pardos, indígenas ou quilombolas, para que a gente possa ter a inclusão dessas lideranças, levando para as suas comunidades a cultura oceânica", diz o coordenador.

O outro edital é a Olimpíada do Oceano, que engloba três modalidades: uma de conhecimento, uma de projetos artísticos, culturais e tecnológicos e uma de projetos socioambientais. Nessa olimpíada, que está em sua terceira edição, qualquer cidadão pode se inscrever e participar.

"Em 2021, tivemos 3.000 inscrições de 17 estados brasileiros. No ano passado, passou para 12 mil inscrições nas 27 unidades de federação brasileiras", diz Christofoletti.

A olimpíada terá uma etapa nacional, e depois ela segue para uma outra etapa internacional, segundo o coordenador. Na primeira fase, 100 alunos serão premiados com bolsas de iniciação científica júnior, igualmente divididos nas cinco regiões do país.

Santos, no litoral paulista, implantou a cultura no ano passado. A cidade tem 86 escolas municipais com cerca de 27 mil alunos e 3.000 professores na rede.
"O fato de Santos ser uma cidade litorânea, de forma natural as escolas já tratavam a cultura oceânica. Essa experiência fez com que a Câmara Municipal transformasse em lei e torná-la uma política pública", explica Renata Bravo, vice-prefeita de Santos.

Segundo Bravo, houve um processo de capacitação dos servidores de ensino e dos coordenadores pedagógicos, para que o tema fosse tratado dentro das unidades escolares de uma maneira transversal.
"Não há uma disciplina falando exclusivamente da cultura oceânica. É tratado, por exemplo, em aula de arte, nas aulas de geografia, toda disciplina que possa ser inserida a cultura do meio ambiente, como tratar, qual a melhor conduta a ser adotada pelos alunos, pelas famílias, para que a gente mude de fato o comportamento das pessoas."

Na segunda-feira (5), dia Mundial do Meio Ambiente, um grupo de alunos da Escola Municipal José da Costa e Silva Sobrinho participou de uma ação na praia do Boqueirão, como parte da ação.
"Durante duas semanas fizemos a preparação para este dia, com conversas, leituras, visualização de imagens de praias do Brasil e ao redor do mundo, características diferentes e comparação com a praia de Santos", explica a professora Daniela Dantas.

"Com a vinda ao local, o aprendizado se torna ainda mais significativo para os alunos e isso eles levarão para a vida." Para Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP, a importância das iniciativas de implantação da cultura oceânica nas escolas é "gigantesca", pois a humanidade tem trazido, por meio das suas atividades, uma série de impactos para o oceano.

"Para combater isso, precisamos de ações individuais e coletivas. E essas ações são mais potentes e tem mais resultados na medida que as pessoas entendem a importância que o oceano tem na vida delas", diz o professor.

"É fundamental a gente construir uma geração azul, que entenda e zele pelo oceano. O Brasil é uma nação oceânica e isso precisa ficar cada vez mais claro para todos os brasileiros. E isso certamente tem na escola um lugar especial de inserção."

Ainda segundo o professor, o Brasil tem feito um bom papel em termos de ciência oceânica no planeta, mas ainda tem gargalos para botar em prática politicas públicas que já existem, como a lei dos oceanos, em trâmite no Congresso há dez anos.

"O Brasil tem uma postura arrojada nas atividades, na mobilização, mas ainda padece de uma dificuldade de fazer a transformação acontecer. Isso passa pelas políticas públicas, que sofrem muito com a fragilidade do poder público, especialmente com a falta de continuidade dessas políticas, na medida que os governos mudam."
 

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