Copa 2022

De descartável a homem gol de Portugal: Gonçalo Ramos vive temporada dos sonhos

| 10/12/22 - 08h12
| Foto: Fifa

“Nem nos meus melhores sonhos pensava que poderia estrear como titular num Mundial com um hat-trick”, suspirou ao fim da goleada de 6 a 1 de Portugal sobre a Suíça, na última terça-feira, 6, que assegurou a passagem para as quartas de final da Copa do Mundo FIFA.

Nada nas palavras do atacante de 21 anos surpreende. Menos de um mês atrás, ele nunca havia sequer representado a seleção portuguesa principal. Muito provavelmente, não teria nem mesmo qualquer chance de fazer parte dos 26 convocados não fosse pelas lesões de Diogo Jota e Pedro Neto e a aposentadoria precoce de Rafa Silva.

Ainda assim, quis o destino que, ao final do duelo pelas oitavas de final no Estádio Lusail, ele tivesse se transformado na nova sensação dos europeus. Mais do que isso, Ramos deu início ao que se tem referido na imprensa local pela primeira vez de era DC (depois de Cristiano). É uma referência, claro, à saída do principal craque do time, Cristiano Ronaldo, para a sua entrada. Depois daquela que tem sido descrita como a melhor atuação de Portugal desde o início do ciclo Fernando Santos em 2014, será difícil desbancar o garoto de Olhão, no sul do país.

E o mais inusitado de tudo isso é que, no meio do ano, o camisa 26 não tinha sua continuidade garantida no Benfica após ter passado os meses anteriores na sombra do uruguaio Darwin Núnez. Ao longo de todo o verão, ele escutou que não se encaixava no estilo do novo treinador do clube, Roger Schmidt, e que deixaria o estádio da Luz antes da fase de grupos da UEFA Champions League. Nada disso se concretizou e, ao se juntar ao grupo português para a preparação final antes do Qatar, o jovem jogador desembarcou com os melhores números entre os atacantes lusitanos: 21 gols desde o início do ano. No último teste pré-Mundial, contra a Nigéria, balançou as redes mais uma vez logo após entrar e deu pista do que estava por vir.

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O seu faro artilheiro é famoso no Benfica. Em 2020, ele fez história ao marcar por quatro categorias diferentes: time principal, reservas, sub-23 e sub-19. Somente na atual temporada, de qualquer forma, Ramos deixou claro por que é chamado de “Pistoleiro” em Lisboa. Antes disso, ele atuou muitas vezes mais recuado como um meia-atacante, em uma indefinição tática que acabou atrasando a sua explosão no profissional. Um desperdício, naturalmente, para quem carrega todos os recursos que ele possui dentro da área.

“Ele tem duas características que considero interessantes: sabe se desmarcar muito bem para que o sirvam e tem o toque final. É claro que ainda pode melhorar aqui e ali, mas vai sempre fazer gols com a qualidade que tem. É um atleta com grande margem para evoluir”, afirmou António Simões, lenda de Portugal no Mundial de 1966 e atual comentarista. Com a média de um gol a cada meia hora até aqui na competição, Ramos deve voltar a campo neste sábado, contra Marrocos, pelas quartas de final, para mostrar que pode furar também a melhor defesa até aqui do Qatar. Para isso, como sempre repete desde que surgiu pelo Benfica, bastará seguir o seu mantra: “na área, o meu trabalho é acreditar em todas as jogadas”.

Ele acredita nisso e um pouco mais.