Fernanda Parrin / Folhapress
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nesta segunda-feira (25) uma resolução que demanda um cessar-fogo imediato na guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza durante o Ramadã, período sagrado para os muçulmanos, que começou em 11 de março e deve terminar em 9 de abril.
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O texto foi proposto pelo grupo de dez membros não permanentes (Equador, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia, Suíça, Argélia e Guiana). É a primeira vez que o órgão aprova uma resolução que fala em cessar-fogo imediato e a terceira em que dá aval a um texto que trata do conflito.
O texto aprovado pede ainda a soltura imediata e incondicional dos reféns pelo Hamas e a garantia do acesso humanitário à região.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em seu perfil no X que a resolução deve ser implementada. "O fracasso seria imperdoável", escreveu. Segundo autoridades palestinas, cerca de 32 mil pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, foram mortas desde o início da guerra, em 7 de outubro.
O representante palestino na ONU, Riyad Mansour, disse que a resolução é bem-vinda, mas destacou que o conselho demorou seis meses para demandar um cessar-fogo. "Isso deve ser um ponto de virada, isso deve levar a salvar vidas em campo. Isso deve sinalizar o fim dessas atrocidades contra nosso povo", disse.
Já o embaixador israelense, Gilad Erdan, afirmou que o texto "faz parecer como se a guerra tivesse começado sozinha". "Israel não começou essa guerra e não queria essa guerra."
Ele afirmou que não há como recuperar os reféns sem uma operação militar, chamando de "contradição moral" o Conselho de Segurança demandar um cessar-fogo sem atrelá-lo à soltura das pessoas sob poder do Hamas. Ele disse ainda que a instância é enviesada contra Tel Aviv.
A aprovação ocorre após um fracasso de um texto semelhante proposto pelos EUA na última sexta (22), vetado por Rússia e China sob a justificativa de que ele não seria claro o suficiente sobre a necessidade de um cessar-fogo imediato. Os países também acusaram Washington de hipocrisia, por ter previamente vetado outras resoluções que pediam uma cessação das hostilidades.
Na votação desta segunda, os americanos se abstiveram. Os demais 14 membros da instância máxima da ONU votaram favoravelmente. A resolução estava prevista para ser votada inicialmente no sábado, mas foi adiada para permitir negociações.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o país gostaria de ter apoiado a resolução, mas teve que se abster porque o texto não faz uma condenação explícita dos atos cometidos pelo Hamas.
Mesmo não tendo votado a favor, a abstenção americana é um forte gesto de distanciamento de Israel -até agora, Washington vinha bloqueando resoluções que pedissem cessar-fogo. Em resposta, Tel Aviv cancelou a visita de uma delegação do país aos Estados Unidos no final desta semana.
"Nós estamos muito desapontados", afirmou Kirby sobre o cancelamento. Ele insistiu, porém, que a abstenção não é uma mudança da postura americana.
O encontro entre o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro de Defesa israelense, Yoav Gallant, previsto para a tarde desta segunda, está mantido, disse o porta-voz.
O forte apoio americano ao seu maior aliado no Oriente Médio passa por um período turbulento diante das críticas às operações de Israel.
Pressionado dentro e fora dos EUA, o presidente Joe Biden mudou seu discurso e passou a cobrar publicamente o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. Em conexão com a postura mais crítica ao aliado, Washington também implementou sanções contra colonos judeus na Cisjordânia associados a episódios de violência.
No ano passado, os EUA vetaram uma resolução proposta pelo Brasil pouco tempo após a eclosão do conflito que falava em pausas humanitárias, sob a justificativa de que o texto não reconhecia o direito de Israel de se defender.
No início de dezembro, Washington também derrubou o texto proposto pelos Emirados Árabes Unidos alegando que ele era utópico e "incapaz de mudar a situação em campo em termos práticos".
Em fevereiro, os americanos usaram novamente seu poder de bloqueio contra uma resolução proposta pela Argélia. O argumento foi que o texto não vinculava o cessar-fogo à soltura dos reféns que continuam em Gaza e, portanto, poderia comprometer "negociações delicadas" em curso.
Nesta segunda, médicos palestinos disseram que o Exército de Israel matou dezenas de pessoas em novos ataques em Gaza. Após invadir o hospital Al-Shifa na semana passada, Tel Aviv mantém um bloqueio de dois hospitais sob a alegação de que há combatentes do Hamas nos prédios -algo que a equipe de saúde e o grupo terrorista negam.
Forças israelenses também estavam sitiando os hospitais Al-Amal e Nasser na cidade sulista de Khan Younis, disseram testemunhas palestinas, uma semana após entrarem no hospital Al Shifa em Gaza, o principal hospital da Faixa.
Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza onde mais de 1 milhão de palestinos se refugiam da guerra, foi um dos locais atingidos nos ataques mais recentes. Último conglomerado urbano do território palestino que ainda não foi alvo de uma operação terrestre maciça das forças israelenses, Rafah se tornou uma questão central para o desgaste entre o presidente americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.
Segundo profissionais de saúde no território, 30 pessoas foram mortas na cidade nas últimas 24 horas. "A cada bombardeio que ocorre, tememos que os tanques entrem. As últimas 24 horas foram um dos piores dias desde que nos mudamos para Rafah", disse Abu Khaled, pai de sete filhos que se recusou a dar seu nome completo por medo de represálias.
"Vivemos com medo. Estamos com fome, desabrigados e nosso futuro é desconhecido. Sem um cessar-fogo à vista, podemos acabar mortos ou deslocados para outro lugar", disse ele à agência de notícias Reuters por meio de um aplicativo de mensagens.
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