Allan Angelo, 29, cuida em média de 25 cachorros por dia. Nos finais de semana, a matilha chega a ter 45 cães e, em um dia mais tranquilo, são "apenas" 15. Os pets latem o tempo todo, arranham portas e pulam em cima dos móveis da sua casa -alguns mais ousados pulam inclusive em cima dos outros.
Mas o furdúncio é lucrativo. Allan coloca no bolso cerca de R$ 30 mil em um mês pouco agitado e R$ 110 mil na alta temporada. Seu negócio é hospedar pets de pessoas que saem para trabalhar ou viajam por dias, semanas e meses. A hospedagem inclui refeição e divertimento no parquinho da residência.
A ideia começou em 2016, quando ele se inscreveu na DogHero, plataforma que conecta interessados em hospedar cachorros a pessoas que precisam sair de casa e não querem deixar seus pets sozinhos. Pela semelhança, o site é apelidado de "Airbnb para cachorros".
A plataforma tem hoje 33 mil heróis, como os hospedeiros são chamados. Eles estão em 1.500 cidades de todos os estados do país e se somam aos cerca de 2 milhões de donos de cães cadastrados desde 2014, quando a Doghero foi criada. O sucesso foi tão grande que em 2020 a gigante do setor Petlove comprou a empresa e a inseriu em seu ecossistema, juntando hospedagem, varejo e plano de saúde em um único site.
Hoje a Doghero oferece hospedagem, creche, veterinário e babá para cachorros -sempre no mesmo esquema, conectando prestadores de serviços a clientes. A plataforma fica com 25% do valor cobrado pelo prestador, à semelhança do que ocorre em aplicativos de transporte. A Doghero não divulga o faturamento mensal da empresa.
"Nós queremos que as pessoas consigam faturar junto com a empresa e atender à demanda da região. A média do valor da hospedagem é de R$ 50, do pet sitter (babá de pet), R$ 40 e da creche, R$ 45", explica Murillo Trauer, diretor da DogHero.
Como todo serviço, o valor varia conforme a cidade. Allan, por exemplo, cobra R$ 70 por dia para hospedar cães de até 5 kg em São Paulo. "O importante é que o valor não seja nem muito alto nem muito baixo", explica Trauer.
Para manter a clientela, a DogHero argumenta que possui diferentes garantias e auxílios "só disponíveis para quem hospeda o pet pela plataforma, como veterinário em caso de problemas de saúde e apoio se acontecer uma fuga".
Ainda assim, há fugas (de usuários). Segundo Allan, metade de seus clientes já não são mais intermediados pela DogHero, apesar de ele cobrar os mesmos valores em ambas as situações. O número cresceu tanto que ele criou sua própria empresa em 2022, a Poli's Heaven (paraíso da Poli) -o nome é baseado em um cão que ficou hospedada por muito tempo em sua casa. Antes de se dedicar apenas ao negócio, ele faturava alugando pensões.
A empresa tem quatro funcionários e está localizada em uma casa de 700 metros quadrados em Perdizes, bairro de classe média alta de São Paulo. Allan mora no local. "Apesar da estrutura ser semelhante à de um hotel, o atendimento é personalizado. Cada cachorro tem um perfil, os cães entram até no meu quarto", diz.
Quando começou, o hoje hospedeiro cuidava de até dez cães sozinho. "Era muito difícil ter que descer para pegar um cachorro e deixar os outros no apartamento. Eles acabavam com a casa e faziam buracos na porta se eu não chegasse logo. Então, eu tinha que descer, conversar com o cliente e voltar correndo para o apartamento", lembra.
Até que um dia fiscais da prefeitura bateram na porta de sua casa. Naquela época, Allan mantinha mais de dez cachorros em sua residência, o que é proibido -a legislação municipal permite o alojamento de até nove cães ou gatos em residências particulares. "Aí, não consegui segurar mais e precisei profissionalizar o negócio", diz.
Há quem não esteja nem aí para o cachorro. Uma das cadelas hoje hospedadas por Allan está há oito meses na casa dele. O dono paga a conta, mas não dá sinais de quando vai voltar a ver o pet. "Eu tenho certeza que ela vai ser minha", diz.
Quando o abandono acontece por meio de um serviço intermediado pela DogHero, o pet é encaminhado para adoção. Segundo a empresa, todo o processo é acompanhado pela equipe até achar um lar para o bicho.