Redação
Nostalgia pode ser perigoso, principalmente quando existe a saudade de um passado que sequer aconteceu. Isso rola bastante quando o assunto é cultura. As gerações podem mudar, mas o batido discurso do "bom era no meu tempo", não muda jamais.
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Na atualidade, esse discurso é usado principalmente para criticar o tipo de música que domina as paradas. Não é incomum encontrar pessoas que sentem saudade da época em que o rock dominava as paradas de sucesso no Brasil.
O problema é que essa época não existiu. Obviamente é impossível negar que os anos 80 foram marcados pelo surgimento e sucesso de dezenas de bandas de pop e rock, com destaque para o fenômeno RPM, a atemporal Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, Blitz, Engenheiros do Hawaii e Kid Abelha, principalmente.
Mas eles não eram uma unanimidade, como alguns acreditam. Basta dar uma olhada nas músicas mais tocadas do período e perceber que, embora vivesse bom momento, o rock dividia as paradas de sucesso com estilos como o brega, o samba, a MPB e, claro, o sertanejo.
Não poderia ser diferente. O Brasil sempre foi um país onde a música romântica dominou as paradas de sucesso, independente do segmento em que ela foi gerada. Porém, quanto mais brega ou meloso, melhor. Do contrário, Amado Batista, Fábio Jr e Roberto Carlos não seriam grandes ídolos nacionais.
Nos anos 80, além deles, tivemos astros como Dalto, Rosana, Yahoo, Roupa Nova, Simone, Oswaldo Montenegro, Luiz Caldas, Olodum, Beto Barbosa, Joanna e José Augusto. Todos dividiram o protagonismo com as bandas de rock e venderam muito mais discos.
Nessa mesma época também, o sertanejo começou a ganhar espaço em áreas urbanas, emplacando no top 100 artistas que viriam a estourar definitivamente na década seguinte, como Chrystian e Ralf, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, Roberta Miranda e Sula Miranda.
Portanto, a sensação de que aquela década foi dominada pelo rock, é mais levada a sério por quem foi adolescente nos anos 80. Em faixas etárias mais elevadas, o rock não chegou a ter o mesmo impacto e importância.
O trunfo desse período no fundo não foi exatamente ser fértil em rock ou esvaziado de sertanejo, como muitos pregam por aí. Na real, os anos 80 foram interessantes exatamente por conseguir misturar tantos gêneros nas paradas, em programas de TV e na mídia impressa. Em poucos momentos do país se presenciou a convivência e o surgimento de uma infinidade de artistas com propostas diferentes que obtiveram exposição e carreira sólida. Uniu todas as tribos. Diferente de hoje, em que o Brasil vive uma monocultura de sertanejo nos principais veículos de mídia.
Mas vale a pena ter nostalgia? Em um momento onde o acesso a músicas e filmes gerados fora do mainstream está ao alcance um clique, reclamar de falta de variedade no mercado cultural prova apenas a preguiça de quem está descontente. No curto prazo, não veremos mais um top 10 variado como o de 1989 (abaixo), é verdade. Mas há anos também não dependemos apenas das poucas rádios e canais de TV para ouvir música nova. Cada época com suas vantagens. E as atuais são maiores. De longe.
1 - "Bem Que Se Quis" - Marisa Monte
2 - "Deus Te Proteja de Mim" - Wando
3 - "Entre Tapas e Beijos" - Leandro & Leonardo
4 - "Don"t Wanna Lose You" - Gloria Estefan
5 - "Straight Up"- Paula Abdul
6 - "Adelaide" - Inimigos do Rei
7 - "Nuvem de Lágrimas" - Fafá de Belém & Chitãozinho & Xororó
8 - "When I See You Smile" - Bad English
9 - "Adocica" - Beto Barbosa
10 - "Eternal Flame" - Bangles
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