Os tempos são outros – “Governo tem choque de realidade e não sabe lidar com Congresso conservador”

Publicado em 31/05/2024, às 17h33

Redação

Ao ser eleito no segundo turno, em 2022, para eu terceiro mandato presidencial, o presidente Lula já tinha conhecimento de que iria se deparar com um Congresso Nacional adverso, por ser composto majoritariamente de políticos de direita.

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A prática tem confirmado a teoria, como indica o resultado da maioria das votações pelos atuais deputados federais e senadores.

Os resultados desta semana confirmam isso, como avalia o jornalista Lucas Borges Teixeira:

 

“As derrotas desta semana escancararam no Planalto a dificuldade na relação com o Congresso: em minoria, o governo não sabe como reverter as votações, especialmente quando se trata de pautas de costume.

O governo já esperava parte dos reveses na sessão do Congresso que analisou vetos de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), mas os números expressivos e ‘traições’ da base acenderam alerta. No Planalto, a avaliação é que a articulação tem de melhorar, mas que o principal ponto é não saber como pautar alguns temas importantes em meio a um Legislativo tão conservador.

A gestão já diz ter aceitado que precisa mudar radicalmente a estratégia. Interlocutores explicam que em em alguns casos, em especial nas chamadas pautas de costume, ‘não há emenda que resolva’ e, em reserva, dizem que o presidente Lula ‘finalmente’ entendeu que as relações mudaram quando comparadas aos dois primeiros mandatos dele, entre 2003 e 2010.

O problema, dizem pessoas próximas, é qual caminho tomar. Só na última terça (28), foram diversas derrotas expressivas, da derrubada do veto à saidinha de presos à taxação das comprinhas internacionais.

Lula já sabia ter minoria, mas vinha tentando acenar ao Legislativo, repetindo contar com o apoio do Congresso na maioria dos projetos do governo. Agora, porém, membros do governo admitem, em reserva, que a gestão está começando a entender apenas agora que a relação não é a mesma dos primeiros mandatos nem se resolve só com a liberação de emendas parlamentares.

O calcanhar de Aquiles são as pautas de costume (ou ‘ideológicas’). Articuladores têm argumentado que, diferentemente de pautas econômicas, casos como o da saidinha, cujos vetos de Lula foram derrubados na terça, não são resolvidos na base da conversa ou mesmo no toma-lá-dá-cá. Especialmente em ano eleitoral, como é 2024.

Preocupados, membros do governo lembram que a maioria não é só oposição, mas conservadora. Isso explicaria, por exemplo, parte das traições de partidos da base que ocorreram nas últimas votações. Ministros palacianos dizem entender que casos assim são ‘perdidos’ porque este parlamentar aliado responde a uma base eleitoral que tem resistência a algumas pautas do governo.

Segundo o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), Lula pediu para ‘melhorar a organização no processo’. O senador contemporizou: argumentou que as derrotas não ocorreram em pautas ‘programáticas’, que essas derrotas já estavam assimiladas e que Lula estava ‘tranquilo’.

O governo já admite há um tempo que a estratégia precisa mudar, mas ainda não sabe como. Reclamações sobre a articulação, em especial voltadas ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e aos líderes José Guimarães (PT-CE), na Câmara, e Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), no Senado, voltaram a aparecer, mas não explicam sozinhas o problema, avaliam fontes importantes do governo.

Aliados mais pragmáticos advertem que a radicalização só aumentaria o isolamento do governo. Eles dizem, inclusive, que em casos como o da saidinha, Lula deveria ter cedido de cara, sem o veto, para evitar o constrangimento.

A insegurança também aumenta a insatisfação. Petistas históricos reclamam que, se Lula sempre anuir com os pedidos do Congresso, ‘não faria sentido ter eleito um governo de esquerda’.”

 

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