“Afinal, para onde vai o Mercosul?” – questionamento sobre a criação de uma moeda comum na região

Publicado em 12/10/2023, às 19h09

Redação

Texto de Nuno Vasconcellos:

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“… A possível adesão da Venezuela ao Mercosul começou a ser discutida ainda no tempo em que o antecessor de Maduro, o coronel Hugo Chávez, estava vivo. A ideia, no entanto, nunca evoluiu. Por um detalhe importante: pelo acordo que criou o Mercosul, a admissão de novos integrantes ao bloco precisa ser decidida por unanimidade — e o Paraguai sempre se opôs à presença da Venezuela.

A chegada do padre esquerdista Fernando Lugo à presidência Paraguai, em 2008, deu a impressão de que a última barreira que impedia a admissão da Venezuela no bloco comercial havia caído por terra. Acontece, porém, que, pela Constituição do país, as decisões estratégicas com relação à política externa necessitam do endosso do Congresso — que continuou resistindo ao ingresso na Venezuela.v

O tempo passou e os nomes foram se alternando no poder nos três países. Mesmo com os sinais de que a Venezuela avançava a passos acelerados para se tornar uma ditadura tão cruel e opressora quanto a cubana, os presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, Cristina Kirchner, da Argentina, e José Mujica, do Uruguai, estavam dispostos a receber o sucessor Chávez, Nicolas Maduro, de braços abertos.

A oportunidade veio em 2012, quando o Congresso paraguaio tomou a decisão soberana, constitucional e, portanto, democrática, de decretar o impeachment de Lugo. Foi então que Dilma, Cristina e Mujica se uniram e, alegando desrespeito do país ao Protocolo de Ushuaia, aplicaram uma suspensão ao Paraguai. Com o único opositor à ideia afastado, a turma abriu as portas e trouxe a Venezuela para dentro do Mercosul.

Com a economia esfrangalhada pelos erros e pela corrupção sem limites do regime ‘bolivariano’, a Venezuela em nada contribuiu para o fortalecimento do bloco e, para piorar a situação, ainda colocou o Mercosul em rota de colisão com as principais economias do mundo. De 2014 para cá, o governo dos Estados Unidos adotou nada menos do que 62 medidas contra a ditadura de Maduro. A União Europeia foi pelo mesmo caminho e adotou nove medidas com restrições duras às relações comerciais com a Venezuela. O Canadá adotou cinco e o Reino Unido, duas.

A Venezuela havia se tornado um pária mundial — condição que mantém até hoje — e estar do lado dela significava estar contra as principais economias do mundo. Foi necessário, no entanto, que Dilma, Cristina e Mujica deixassem o poder para que o bloco finalmente se convencesse da necessidade de afastar a Venezuela do bloco, o que aconteceu no dia 5 de agosto de 2017. Agora, Lula e o presidente da Argentina, Alberto Fernandez, que age como se fosse um garoto de recados do mandatário brasileiro, querem porque querem trazer Nicolás Maduro de volta….

Além da afinidade ideológica, Lula e Fernández batem com insistência na tecla da criação de uma moeda comum, que livre os países do bloco da dependência do dólar. Esse, aliás, é um ponto interessante. Chega a parecer piada ouvir Fernandez, que preside uma das economias mais dolarizadas do mundo, onde a moeda americana circula sem restrições no comércio e é tão utilizada nas transações do dia a dia quanto o próprio peso argentino moeda local, defender que os negócios com os vizinhos sejam feitos em moeda local.

Lacalle Pou defende que o Mercosul se fortaleça como um bloco de livre comércio, como estava previsto desde a criação, e que feche os acordos com países que possam trazer vantagens para todos — sem dar bola para a ideologia do parceiro comercial. Tanto assim que vem negociando por sua conta um acordo comercial com a China, com quem não tem afinidades ideológicas. ‘O Uruguai luta para conseguir mercados’, disse Lacalle Pou. “O Mercosul precisa avançar e, se não formos juntos, faremos bilateralmente”, disse.

A sorte está lançada e agora cabe a Lula decidir se será o presidente que salvou o Mercosul, com o acordo com a União Europeia, ou o presidente que sepultou o bloco ao dar mais importância à ideologia do que aos interesses dos países membros.”

 

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