Opinião: “A possibilidade de que contas do serviço gov.br sejam invadidas é algo grave”

Publicado em 08/10/2023, às 17h02

Redação

Texto de Madeleine Lacsko

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“A editora-executiva do Estadão em Brasília, Andreza Matais, teve hackeada sua conta no gov.br. Tudo ocorreu em meio a uma polêmica envolvendo o empréstimo do CAF, Banco de Desenvolvimento da América Latina. É assustador que não se perceba a gravidade do fato.

Toda a polêmica está girando em torno do noticiário, e não do hackeamento. A possibilidade de que contas desse serviço sejam invadidas é algo que diz respeito a todos os brasileiros.

Andreza Matais é a chefe da equipe. A notícia específica sobre o empréstimo à Argentina é assinada por outra jornalista, também premiada, Vera Rosa. O governo contestou os fatos. Os ataques em mídias sociais começaram.

Um dos assessores da Secom comentou o tema falando em extrema direita e Gabinete do Ódio. Numa resposta, Andreza Matais tuitou apenas um número. Era o salário do assessor, um dado público. Muitos perfis, incluindo jornalistas e influencers, começaram a xingar por considerar errada a resposta.

Logo depois, a conta gov.br da assessora foi invadida. Os hackers ameaçam divulgar os dados da Receita Federal. Há quem suspeite de interferência do governo, mas não há informações sobre o hackeamento.

O pior é que não há cobranças firmes sobre a possibilidade de invasão desse sistema. Isso interessa a todos. A leniência com o ocorrido pode dar um sinal social errado, de que isso é tolerado.

Aqui existe algo para além da questão de possibilidade de perseguição política: a segurança desse sistema. Hoje, ele é praticamente obrigatório para que todos os cidadãos exerçam sua cidadania.

O sistema consolida dados, é uma novidade. Estão ali não apenas as informações da Receita Federal, mas também muitas outras, como SUS, título de eleitor, carteira de habilitação e assinatura digital de documentos. O sistema pode ser usado até para fazer empréstimos consignados.

Se esse sistema é vulnerável, temos um problema grande para todos os cidadãos. Quando a invasão é minimizada pelo posicionamento político ou atitudes de alguém, temos o caos.

Tratar essa história sem dar a gravidade que merece pode enviar um sinal errado, de que isso está liberado a depender do alvo.

É preocupante que jornalistas estejam focados agora em atacar a colega discutindo detalhes de uma reportagem. Se a invasão é aceita a depender do alvo, todos são vulneráveis, mesmo os que estão defendendo o governo agora.

O problema não é só a atitude das mais altas autoridades, é a sensação de “liberou geral” para todas as demais. Caso o sistema seja vulnerável, passa a ser tentador para qualquer um desgostoso com uma reportagem invadir as contas de quem a fez. E isso vale tanto para casos de notícias erradas quanto certas.

A se manter a passividade, é uma prática com potencial de atingir a todos, mesmo aqueles que não têm vida pública e nem falam de governo. Para um desafeto atingir outro, basta violar o sistema e expor a vida da pessoa. Isso pode ocorrer com qualquer disputa corriqueira envolvendo qualquer pessoa.

Temos aí ainda o mercado dos golpes digitais, cada vez mais aquecido porque toda a nossa vida foi digitalizada. Você pode pensar no número de ações criminosas que se tornam possíveis caso haja problemas de segurança no gov.br. É urgente esclarecer esse caso. Infelizmente, esse tipo de esclarecimento é um que exige pressão popular.”

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